Microfone transmite conversa de Xi e Putin sobre transplante de órgãos e imortalidade

Um microfone captou uma conversa curiosa entre o presidente da China, Xi Jinping, e o seu homólogo da Rússia, Vladimir Putin, enquanto participavam do grande desfile militar em Pequim, capital chinesa, que marcou o 80º aniversário da rendição formal dos japoneses no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) nesta quarta-feira, 3. O bate-papo, transmitido ao vivo sem querer, abordava as possibilidades de aumento da longevidade através do transplante de órgãos e imortalidade.

Putin e Xi caminhavam em direção à tribuna da Praça da Paz Celestial, onde assistiriam ao desfile. Eles estavam acompanhados por Kim Jong-un, da Coreia do Norte. É possível, então, ouvir o tradutor do russo falando em chinês: “A biotecnologia está em constante desenvolvimento”, acrescentando depois de um curto período inaudível: “Órgãos humanos podem ser transplantados continuamente. Quanto mais você vive, mais jovem você se torna, e (você pode) até alcançar a imortalidade.”

O líder chinês responde, então, que “alguns preveem que neste século os humanos podem viver até 150 anos”. Quando Xi começou a falar, o vídeo mudou para uma tomada ampla da Praça da Paz Celestial, sem áudio. Antes disso, foi possível ver que Kim sorria e olhava na direção dos dois líderes, mas não se sabe se o assunto estava sendo traduzido para ele também. A voz de Putin não aparece na gravação, apenas a de seu tradutor. Mais tarde, tanto Putin quanto Kim reaparecem na câmera, subindo os degraus em direção à plataforma de observação. 

O momento foi transmitido em tempo real pela emissora estatal CCTV, que replicava o sinal para a emissora estatal chinesa CGTN e para as agências de notícias Associated Press e Reuters. A cobertura foi assistida 1,9 bilhão de vezes online e por mais de 400 milhões de pessoas através da televisão, segundo a administração de rádio e TV da China.

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Grande desfile

Xi Jinping presidiu um enorme desfile militar em Pequim nesta quarta com dezenas de caças, mísseis e centenas de soldados em marcha, evento que contou com a presença de uma longa lista de líderes que, como ele, contestam a ordem mundial baseada no domínio dos Estados Unidos — a maioria compõe uma espécie de clube dos autocratas, entre eles o russo Vladimir Putin, o norte-coreano Kim Jong-un, e os chefes de Estado do Irã e Paquistão. A cena foi lida como uma mensagem aos seus rivais para que não o desafiem.

Canhões dispararam 80 vezes para marcar o aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, enquanto soldados carregando uma bandeira chinesa marchavam por um tapete vermelho que cobria parte da Praça da Paz Celestial. A multidão reunida para assistir ao desfile agitava pequenas bandeiras no ar, cantando o hino nacional. Mais tarde, pombos e balões — 80 mil de cada — foram soltos no ar.

O desfile foi ápice da campanha que o Partido Comunista coordenou na última semana para incitar sentimentos nacionalistas, reformular o papel da China na Segunda Guerra Mundial e pintar o partido como “salvador da nação” contra um agressor estrangeiro, o Japão Imperial. O uso das memórias de guerra serve para angariar apoio a Xi diante da incerteza econômica em casa e das tensões com os Estados Unidos.

“A nação chinesa é uma grande nação que não teme a tirania e se mantém firme sobre seus próprios pés”, declarou o líder do país na tribuna do Portão da Paz Celestial, acima de um grande retrato de Mao Zedong.

Ele traçou conexões diretas entre os sacrifícios da Segunda Guerra e os desafios que a China afirma enfrentar hoje.

“Quando confrontado no passado com uma luta de vida ou morte entre a justiça e o mal, a luz e as trevas, o progresso e o retrocesso, o povo chinês se uniu em ódio ao inimigo e se ergueu em resistência”, disse ele, descrevendo as tensões atuais como mais uma escolha entre paz ou guerra, diálogo ou confronto, e disse que a China estaria do lado do progresso.

O evento foi rico em simbolismo, conectando o Partido Comunista de hoje com o da Revolução Chinesa. Líderes de alto escalão do passado e do presente reuniram-se com Xi, que vestia um terno bem ao estilo de Mao, o pai fundador da República Popular. Mais tarde, ele desfilou pelas ruas acenando do teto solar de uma limusine Bandeira Vermelha, de fabricação chinesa — veículo que evoca tanto a era Mao quanto a ambição da China de autossuficiência industrial.

Enquanto Xi cumprimentava os soldados (“camaradas”), eles viraram a cabeça em perfeita sincronia, respondendo em uníssono: “Sigam o Partido! Lutem para vencer! Forjem uma conduta exemplar!”

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