O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou na terça-feira 30 que a usina nuclear de Zaporizhzhia, ocupada pelos russos, ficou sem energia elétrica por sete dias consecutivos, a maior interrupção desde o início da guerra no país. De acordo com ele, a situação é crítica e “uma ameaça a todos”, enquanto a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão de fiscalização das Nações Unidas, avalia que, embora não haja risco imediato de acidentes nucleares, a dependência exclusiva de geradores é insustentável e perigosa.
“Este é o sétimo dia – aliás, algo inédito – de emergência na usina nuclear de Zaporizhzhia. A situação é crítica”, disse Zelensky em seu costumeiro discurso noturno.
“Ameaça a todos”
O presidente alertou que a instalação, a maior usina nuclear da Europa, depende exclusivamente de geradores a diesel para manter os sistemas de segurança funcionando após ataques russos terem cortado suas linhas de energia externas. Localizada na cidade de Enerhodar, ocupada pela Rússia, às margens do rio Dnipro, a usina fica próxima à linha de frente.
“Os geradores e a usina não foram projetados para isso e nunca operaram nesse modo por tanto tempo. E já temos informações de que um gerador falhou”, disse ele.
Zelensky acusou Moscou de obstruir tentativas de reparo das linhas de energia por meio de bombardeios contínuos.
“Isso é uma ameaça a absolutamente todos. Nenhum terrorista no mundo jamais ousou fazer com uma usina nuclear o que a Rússia está fazendo agora. E com razão, o mundo não deve permanecer em silêncio”, afirmou o presidente, acrescentando que ordenou ao governo e aos diplomatas ucranianos que chamassem a atenção internacional para a crise.
Também na terça-feira, o serviço diplomático da União Europeia emitiu comunicado em que denunciou a ocupação russa de Zaporizhzhia como ilegal e instou Moscou a retirar suas forças do local. O texto também apelou para que a Rússia “cesse imediatamente todas as operações militares ao redor da usina nuclear” e autorize os reparos necessários.
Alerta da agência nuclear da ONU
A Rússia, que tomou a usina em 2022, afirmou na semana passada que estava fornecendo energia de reserva à instalação desde um bombardeio que atribuiu à Ucrânia. Os seis reatores foram desligados desde a ocupação, mas a instalação ainda precisa de eletricidade para manter funcionando o sistema de resfriamento e evitar um incidente nuclear.
O chefe da AIEA, Rafael Grossi, declarou em comunicado que está “em contato constante” com Moscou e Kiev a fim de reconectar a usina à rede elétrica o mais rápido possível.
“Embora a usina esteja atualmente resistindo graças aos seus geradores a diesel de emergência – a última linha de defesa – e não haja perigo imediato enquanto eles continuarem funcionando, a situação claramente não é sustentável em termos de segurança nuclear”, alertou Grossi.
Administradores instalados pela Rússia em Zaporizhzhia informaram à AIEA que não seria possível realizar reparos devido às hostilidades em curso na área. A usina tem enfrentado repetidos problemas de segurança desde a invasão russa da Ucrânia, incluindo cortes de energia, bombardeios nas proximidades e escassez de funcionários.