Foi assustador. Na segunda-feira 1º, um terremoto de magnitude 6 na escala Richter pôs abaixo as frágeis construções de pedra e argila das províncias orientais de Kunar e Nangarhar, no Afeganistão. Pelo menos 1 400 pessoas morreram e mais de 3 100 ficaram feridas. É tragédia recorrente: em 2022, tremor de mesma dimensão matou 6 000 cidadãos, em lição que custa a ser aprendida, misto de ferocidade da natureza com descaso. Agora, dá-se ainda mais drama porque o epicentro do sismo está em uma região montanhosa e de difícil acesso. “Levará tempo para obter informações sobre perdas humanas e danos à infraestrutura”, disse o porta-voz do Ministério da Saúde Pública, Sharafat Zaman. O episódio apenas agrava a persistente crise humanitária que assola uma nação em frangalhos. Depois de quatro décadas de guerra, a ONU calcula ser necessário enviar ajuda internacional a mais da metade dos 42 milhões de habitantes, mas os recursos vêm diminuindo gradativamente, após a volta do Talibã ao poder. França, Reino Unido e, principalmente, os Estados Unidos de Donald Trump suspenderam ou eliminaram suas contribuições, levando ao fechamento de hospitais e centros comunitários. O movimento fundamentalista islâmico tem apelado por financiamento para a reconstrução, mas somente a Rússia, até o momento, reconheceu formalmente a legitimidade do grupo. Diante de tão assustador contexto, é triste constatar uma sobreposição de horrores: a terra que treme e o radicalismo político inaceitável.
Publicado em VEJA de 5 de setembro de 2025, edição nº 2960