Uma reunião na segunda-feira 29 entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os líderes do Partido Democrata no Congresso para negociar a aprovação de uma lei orçamentária que estenderá o financiamento do governo americano não resultou em nenhum avanço. Ou seja, o país está mais uma vez à beira de uma paralisação, a menos que o Congresso chegue a um acordo antes do início do novo ano fiscal, na quarta-feira, 1º de outubro.
“Acho que estamos caminhando para uma paralisação”, reconheceu o vice-presidente, J.D. Vance, embora tenha usado a oportunidade para culpar o Partido Democrata por “não fazer o que é certo”.
A briga é a seguinte: os democratas se recusam a apoiar a legislação do Partido Republicano para estender o financiamento até 21 de outubro, a menos que o texto inclua também diversas disposições sobre saúde. Entre elas, estão a extensão dos subsídios que reduzem o custo do seguro saúde sob o Affordable Care Act, prestes a expirar, e uma reversão dos cortes no Medicaid feitos pelo governo atual.
De acordo com líder democrata no Senado, Chuck Schumer, Trump “pareceu, pela primeira vez, entender a magnitude desta crise (de saúde)” depois da reunião de segunda. Mas não está claro se o presidente vai se deixar dobrar.
Os democratas do Congresso estão sob pressão para usar sua influência para enfrentar Trump e seu governo. Em março, Schumer emprestou votos democratas necessários para aprovar uma medida semelhante de financiamento de curto prazo, redigida pelos republicanos, sem garantir nenhuma concessão – uma medida que enfureceu a base do partido.
O Partido Republicano aprovou o projeto na Câmara no início deste mês, fazendo uso de sua maioria na casa legislativa. Todos os democratas votaram contra, exceto um. No entanto, o texto precisa mais apoio bipartidário para avançar no Senado.
O que é uma paralisação do governo?
Sem um acordo não até a meia-noite desta terça-feira, 30, partes do governo começarão a paralisar. Sem esse dinheiro, certas operações serão suspensas e as agências federais serão forçadas a interromper todas as funções não essenciais até que o Congresso aja.
Com ambas as casas do Congresso profundamente polarizadas, as ameaças de paralisação tornaram-se uma marca das batalhas orçamentárias em Washington. Um impasse em 2018, durante o primeiro mandato de Trump, resultou em uma paralisação de 34 dias, a mais longa da era moderna. Na época, cerca de 800 mil dos 2,1 milhões de funcionários do governo federal foram afastados sem remuneração.
Por que a ameaça deste ano é mais séria?
Desta vez, o impacto sobre os funcionários do governo federal pode ser ainda mais severo. Em um memorando divulgado na última quarta-feira, o Escritório de Administração e Orçamento da Casa Branca instruiu as agências não apenas a se prepararem para aplicar afastamentos temporários, mas também para demissões permanentes em caso de paralisação.
O memorando instruiu as agências a prepararem comunicados de redução de efetivo para programas federais cujas fontes de financiamento seriam extintas em caso de paralisação e “não são consistentes com as prioridades do presidente”.
O Escritório de Administração e Orçamento esteve à frente de esforços anteriores do governo para enxugar a força de trabalho federal, parte de uma campanha mais ampla de cortes de gastos liderada pelo “departamento de eficiência governamental”, ou DOGE, força-tarefa de Elon Musk.
O que acontece se o governo paralisar?
Em caso de paralisação total ou parcial do governo, centenas de milhares de funcionários federais podem ser afastados ou obrigados a trabalhar sem remuneração. Operações consideradas essenciais — como nas áreas de previdência social, deveres militares, fiscalização da imigração e controle de tráfego aéreo — continuam de pé, mas outros serviços podem ser interrompidos ou atrasados.
O efeito pode ser abrangente e duradouro. Paralisações anteriores fecharam parques nacionais e os museus Smithsonian em Washington; causaram caos em aeroportos; atrasaram inspeções de segurança alimentar e adiaram audiências de imigração.
Embora a economia em geral possa não sentir os efeitos de imediato, analistas alertam que uma paralisação prolongada pode desacelerar o crescimento do PIB, prejudicar os mercados e minar a confiança do público.