Quem é Marina Lacerda, brasileira que relatou ter sido vítima de Epstein

A brasileira Marina Lacerda veio a público pela primeira vez na quarta-feira 3 para revelar que foi uma das vítimas do milionário Jeffrey Epstein nos Estados Unidos. O financista foi julgado e condenado por manter uma rede de exploração sexual de garotas, muitas menores de idade, e se matou na cadeia em 2019.

Lacerda participou de uma coletiva de imprensa em Washington, D.C., capital americana, ao lado de outras mulheres que denunciaram Epstein às autoridades. As vítimas pediram que o Congresso dos Estados Unidos aprovem uma lei que obrigue a divulgação de todos os documentos da investigação, com intuito de localizar os associados do esquema criminoso.

A coletiva foi organizada pelos deputados Thomas Massie, republicano, e Ro Khanna, democrata, que se coordenam num raro esforço bipartidário para pautar no Congresso a votação de um projeto sobre arquivos. No meio tempo, as vítimas afirmaram estar compilando a própria lista de seus cúmplices conhecidos, alegando que o governo americano não publicou tudo o que sabe.

“Velha demais”

Falando publicamente pela primeira vez sobre o tema, a brasileira afirmou que os abusos começaram quando tinha apenas 14 anos, em Nova York, e duraram até os 17, quando o financista perdeu o interesse nela por ser “velha demais”.

Na acusação formal contra Epstein de 2019, ela foi identificada como “Vítima menor de idade número 1”. Naquele ano, de acordo com a imprensa americana, ela foi responsável por fornecer informações cruciais que levaram o empresário à prisão.

Hoje, com 37 anos e uma filha, Lacerda defende que revelar toda a verdade sobre o caso pode ajudar as vítimas a se curarem.

“Há partes da minha própria história que não consigo lembrar, por mais que eu tente”, disse ela. “Há pessoas por aí que sabem mais sobre meu abuso do que eu. O governo tem documentos que poderiam me ajudar a lembrar e a me curar.”

“Pior pesadelo”

Na coletiva de imprensa, a brasileira contou que conheceu Epstein em 2002, quando tinha 14 anos e dividia um quarto no bairro nova-iorquino Queens com a mãe e a irmã, recém-chegadas aos Estados Unidos. Segundo relatou, precisava fazer malabarismo com três empregos para sustentar a família, e chegou ao milionário por meio do que foi apresentado como uma proposta de trabalho.

“Uma amiga minha do bairro me disse que eu poderia ganhar US$ 300 para dar uma massagem em um cara mais velho”, contou. “Isso passou de um emprego dos sonhos para o pior pesadelo.”

Lacerda revelou que, em seguida, abandonou o Ensino Médio porque precisava estar com frequência na casa de Epstein, afirmando que trabalhou para ele “em vez de receber educação” na esperança de conseguir um bom emprego. “Eu pensava que, se eu apenas jogasse o jogo, não seria mais só essa imigrante do Brasil, e teria algo a esperar do futuro”, afirmou.

O FBI só foi procurá-la em 2008, de acordo com o relato, seu depoimento não foi ouvido pela Justiça porque Epstein havia assinado um acordo judicial. Só 11 anos depois, com a reabertura da investigação, ela foi testemunha no caso.

Caso Epstein

Durante a campanha eleitoral no ano passado, o presidente americano, Donald Trump, prometeu divulgar os arquivos secretos ligados à investigação de Epstein caso retornasse à Casa Branca. No entanto, protelou a medida porque parece não haver uma verdadeira “lista secreta” de nomes envolvidos com a rede de exploração sexual, como havia sugerido anteriormente em uma teoria da conspiração. O rumor voltou-se contra ele: sua base política, a Make America Great Again (MAGA), acredita que ele próprio estaria na lista.

Trump parece estar encurralado. O líder americano rejeitou uma nova investigação contra Esptein, definindo o assunto como “chato” e apenas interessante para “pessoas más”. Ele também disse que apoia a publicação de arquivos “confiáveis” para calar o alvoroço causado pelos seus próprios apoiadores.

“Não entendo por que o caso Jeffrey Epstein seria do interesse de alguém”, opinou Trump a repórteres. “É um assunto bem chato. É sórdido, mas é chato, e não entendo por que continua acontecendo. Acho que só pessoas bem ruins, incluindo as fake news, querem manter algo assim acontecendo”, acrescentou.

Ao longo da campanha eleitoral, Trump incentivou o conspiracionismo ao alegar que o país era controlado por elites obscuras do “Estado profundo” e ligando as altas rodas do Partido Democrata à suposta “lista de Epstein”, o que cultivou um sentimento de paranoia na MAGA. Agora, a desconfiança nutrida por ele virou um tiro no próprio pé: seus apoiadores suspeitam de que o republicano, que era próximo a Epstein nos anos 2000, esteve envolvido de alguma forma no escândalo de abuso sexual e trabalha agora para o “Estado profundo” que supostamente esconde verdades da população.

+ Sob críticas pelo caso Epstein, Trump chama os próprios apoiadores de ‘fracos’

A teia conspiracionista foi promovida também pelo magnata Elon Musk, antigo braço direito de Trump. Após deixar o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), em maio, o bilionário passou de consigliere a inimigo do presidente dos Estados Unidos em um curto espaço de tempo. O dono da Tesla e do X atiçou a polêmica ao acusar o republicano de boicotar a liberação dos arquivos Epstein por ter sido citado neles.

“Hora de jogar a bomba realmente grande: Donald Trump está nos arquivos de Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não se tornaram públicos. Tenha um ótimo dia, DJT (Donald John Trump)!”, escreveu Musk no X, antigo Twitter.

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *