A reunião climática organizada pela ONU em Nova York, em 24 de setembro, trouxe avanços, mas também expôs lacunas importantes na corrida contra o aquecimento global.
Pela primeira vez, cerca de metade das emissões globais de gases de efeito estufa está coberta por compromissos de redução para 2035, segundo análise do Carbon Brief.
O grande destaque do encontro foi a China, que surpreendeu ao assumir a meta de cortar entre 7% e 10% das emissões em relação ao pico até 2035.
Como maior poluidora do planeta, responsável sozinha por 29% das emissões, Pequim deu o tom da cúpula. Rússia e Turquia, outros grandes emissores, também anunciaram novas metas nacionais, conhecidas como NDCs, sigla para “contribuições nacionalmente determinadas”.
Ao todo, 63 países já apresentaram ou anunciaram metas climáticas para 2035. Trata-se de um terço das nações signatárias do Acordo de Paris.
A regra do tratado prevê que os países atualizem seus compromissos a cada cinco anos, dentro do chamado “mecanismo de progressão”, para manter a elevação da temperatura global abaixo de 2°C neste século, com esforço adicional para limitar a 1,5°C.
O prazo oficial para a entrega das NDCs era 10 de fevereiro de 2025, mas 95% dos países não cumpriram.
Diante da morosidade, o secretário-geral da Convenção do Clima da ONU, Simon Stiell, cobrou que as metas fossem apresentadas até o fim de setembro.
Muitos governos, no entanto, informaram que só conseguirão formalizar seus compromissos até ou durante a COP30, que será realizada em novembro, em Belém do Pará.
Europa e EUA em impasse
A União Europeia ainda não fechou posição sobre sua meta para 2035. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou apenas uma “declaração de intenção”, prevendo cortes de 66,3% a 72,5% das emissões em relação a 1990. A formalização deve ocorrer antes da COP30.
Já os Estados Unidos vivem indefinição. O país havia submetido sua meta no ano passado, sob Joe Biden, mas o atual presidente, Donald Trump, assinou um decreto retirando os EUA do Acordo de Paris. Na prática, isso torna o compromisso americano inválido.
Quem se comprometeu
Além de China, Rússia e Turquia, outros países anunciaram novas metas em Nova York: Palau, Tuvalu, Quirguistão, Peru, São Tomé e Príncipe, Fiji, Bangladesh e Eritreia. Juntos, eles respondem por 36% das emissões globais — sendo que a China sozinha representa quase 30%.
Até o momento, 53 países já formalizaram suas metas de 2035 na Convenção do Clima, representando 14% das emissões globais. Somando anúncios e submissões oficiais, chega-se à marca de 50% da poluição global coberta.
Grandes ausentes
Dois terços das nações ainda não entregaram seus planos, incluindo grandes emissores como Índia, Indonésia e México. Nova Délhi sinalizou que pretende apresentar sua NDC no início da COP30, em 10 de novembro.
O México, por sua vez, alegou que ainda consulta setores industriais, enquanto a Indonésia não deu previsão.
Esse atraso significa que boa parte dos compromissos não entrará no relatório-síntese que a ONU publicará nas próximas semanas, compilando o nível de ambição global.
Expectativas para a COP30
A cúpula de Belém terá papel central para transformar anúncios dispersos em compromissos concretos. A conferência marca os dez anos do Acordo de Paris e deve ser o espaço em que grandes emissores oficializarão suas metas de 2035. Índia, México, Indonésia e outros países do G20 são aguardados com atenção.
O Brasil, anfitrião da COP30, aposta em usar o encontro para consolidar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) como mecanismo internacional de financiamento da preservação, além de reforçar o protagonismo do Sul Global na transição energética.
Também se espera que a conferência avance em temas sensíveis como financiamento climático, mecanismos de perdas e danos, e maior clareza sobre o papel dos créditos de carbono.
Em resumo, se Nova York mostrou que metade das emissões já está coberta por metas para 2035, será em Belém que a comunidade internacional testará se a outra metade está disposta a agir com a mesma urgência.