A mais nova pesquisa Quaest, divulgada nesta segunda, 3, confirma uma virada no sentimento do eleitorado brasileiro: a segurança pública passou a ser o tema mais sensível da política nacional, e o governo Lula aparece em forte desvantagem nessa agenda. Em entrevista ao programa Ponto de Vista, apresentado por Marcela Rahal, o cientista político Felipe Nunes, CEO do instituto, explicou como os dados revelam um terreno fértil para o crescimento eleitoral da direita, especialmente após a megaoperação no Rio de Janeiro, a mais letal do país.
“A segurança pública é hoje o ponto de maior vulnerabilidade da esquerda. O governo Lula tem 60% de avaliação negativa nesse tema e só 18% positiva. Isso é um número politicamente perigoso”, disse Nunes.
Apoio popular a uma operação violenta
Apesar do saldo de 121 mortos — entre eles quatro policiais — a pesquisa mostra que 58% dos fluminenses consideram a operação um sucesso, contra 32% que a veem como um fracasso. O dado, segundo Nunes, traduz o nível de desespero da população diante da escalada da criminalidade.
“Mesmo com a violência e as imagens chocantes, a maioria da população aprovou a ação. Isso mostra que o medo e a sensação de abandono superam o repúdio à letalidade policial”, afirmou o pesquisador.
Homens e mulheres: visões opostas sobre a repressão
Um dos cruzamentos mais reveladores do levantamento é o contraste entre gêneros.
“Entre os homens, 73% consideram que a operação foi um sucesso; entre as mulheres, o número cai para 43%. Ou seja, os homens são amplamente favoráveis, enquanto as mulheres se dividem. Metade acha que foi um sucesso, metade um fracasso”, detalhou Nunes.
O dado evidencia uma diferença de percepção moral e emocional sobre o uso da força, tema que deve influenciar os discursos eleitorais de 2026. Para o cientista político, os candidatos que souberem equilibrar firmeza com empatia podem capturar o eleitorado feminino, que tende a reagir mal ao discurso bélico e à brutalidade.
Polarização previsível — e o peso do eleitor de centro
A pesquisa também mostra que a operação no Rio reforçou a clivagem ideológica entre direita e esquerda, mas com um fator novo e decisivo: o apoio do eleitor independente, o chamado voto de centro.
“Entre bolsonaristas e eleitores da direita, 86% consideram que a operação foi um sucesso. Já entre lulistas e eleitores de esquerda, mais de 60% veem como um fracasso. Mas o ponto-chave é o centro: entre os independentes, 52% acham que foi um sucesso, só 30% acham que foi um fracasso”, explicou Nunes.
Essa adesão do eleitor moderado, segundo ele, explica o crescimento de figuras da direita como Cláudio Castro e Ronaldo Caiado, e coloca pressão sobre o governo federal, que ainda não conseguiu formular uma resposta convincente ao avanço do crime organizado.
“Essa pauta não é exclusiva da direita. Ela também captura o centro político. E é esse eleitor do meio que decide eleição”, resumiu.
O risco eleitoral para o governo Lula
Com a segurança pública dominando o debate e a popularidade do governo em queda nesse tema, Nunes avalia que a esquerda precisará rever sua estratégia se quiser evitar um desgaste crescente.
“O governo Lula se fortaleceu na economia e na diplomacia, mas agora enfrenta um problema que não se resolve com discurso. A segurança mexe com o medo e com a rotina das pessoas. Se o Planalto não agir rápido e de forma convincente, vai perder terreno para a oposição”, advertiu.
Um tema que redefine o jogo político
Os dados da Quaest consolidam a segurança pública como o novo eixo da disputa entre governo e oposição. O apoio à operação no Rio — mesmo diante do alto número de mortos — revela uma sociedade exausta da violência e disposta a tolerar medidas extremas.
Mas, como observa Nunes, o apoio é condicional: ele só se mantém enquanto a população perceber sinceridade e resultados reais, não cálculo político.
“É um tema explosivo. Se for tratado com oportunismo, o efeito se perde. Mas se for tratado com autenticidade, pode definir a próxima eleição.”


											










