Durante discurso na Indonésia na semana, Luiz Inácio Lula da Silva fez o que até então evitava: anunciou que será candidato à reeleição em 2026. Aos 79 anos, o presidente afirmou estar “com a mesma energia de quando tinha 30” e declarou que pretende disputar “um quarto mandato” no Brasil. O anúncio pegou até auxiliares de surpresa e foi interpretado por analistas como um gesto calculado de força, num momento em que Lula vive sua fase mais favorável desde o início do governo.
“O presidente está aproveitando a visibilidade da viagem e o bom momento político”, observou o colunista Robson Bonin, no programa Os Três Poderes, da VEJA. “É um Lula que perdeu o medo da derrota e que aposta na recuperação da popularidade para sustentar a candidatura.”
Da cautela à afirmação
Até recentemente, Lula dizia que só concorreria “se estivesse bem de saúde” e “com algo a propor ao país”. A fala ambígua, segundo Bonin, servia como válvula de escape: uma brecha para recuar caso as pesquisas mostrassem desvantagem frente à direita.
Agora, com indicadores econômicos em leve melhora e ações sociais retomando tração, o presidente parece convencido de que pode vencer novamente. “O Lula percebeu que o cenário é menos hostil do que em 2023”, avalia Bonin. “A inflação dos alimentos caiu, o governo distribuiu recursos, e ele conquistou até um gesto de aproximação com Donald Trump. Tudo isso o encorajou a assumir o projeto de reeleição.”
O cálculo político por trás do anúncio
A escolha do momento — e do local — não foi casual. A fala ocorreu em um evento internacional, às vésperas do encontro de Lula com Trump, o que deu repercussão global ao gesto. “Ninguém soube explicar por que ele fez isso lá, e não no Brasil”, relatou a apresentadora Marcela Rahal. “Mas é evidente que foi um recado calculado. Ele quis transformar a viagem em um ato de protagonismo político.”
O colunista Matheus Leitão destacou o simbolismo: “Lula usa o holofote da cúpula asiática e da expectativa pelo encontro com Trump para se afirmar como liderança mundial e como candidato interno. Foi uma jogada de visibilidade, não um improviso.”
Unidade à esquerda e o vácuo de sucessores
A declaração também reforça o papel de Lula como figura insubstituível no campo progressista. Sem herdeiros claros no PT, a esquerda não conseguiu construir nomes alternativos de peso. “O partido pós-Lula é uma invenção, ninguém sabe quem representa o futuro”, analisou Bonin. “Ele sufocou tanto o PT que não deixou surgir sucessores. Então, a única certeza é: sem Lula, a esquerda perde o centro de gravidade.”
Essa ausência de alternativas explica a pressão interna para que o presidente permaneça no jogo — um movimento que, para muitos petistas, é visto como um “sacrifício necessário” para manter o poder.
O momento de alta
A decisão vem embalada por indicadores e conquistas recentes: a queda da inflação dos alimentos, o avanço de programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família, e a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000, uma promessa não cumprida por Jair Bolsonaro e agora apropriada pelo governo petista.
Para Leitão, esses fatores “empoderaram” Lula. “Ele estava sem bandeiras claras. Agora tem o que mostrar — e até uma narrativa de vitória sobre o bolsonarismo digital. O anúncio da candidatura é a consequência natural desse novo fôlego.”
Uma aposta ousada
Ainda assim, o movimento carrega riscos. Lula volta a ser a âncora e o alvo de um projeto que depende quase inteiramente de sua imagem. A direita, embora fragmentada, deve reagir assim que definir um nome competitivo.
No discurso, Lula brincou com a idade e garantiu vigor: “Vou disputar um quarto mandato no Brasil”, disse, arrancando aplausos discretos — em sua maioria, de diplomatas indonésios.
No Planalto, porém, a frase soou como um ato político com endereço certo: o eleitor brasileiro. Lula decidiu antecipar o jogo. E, desta vez, não deixou margem para dúvidas.













