por Ramon Barbosa Franco

Tem um conto de Herman Hesse (1877-1962) onde o personagem, depois de passar a infância num determinado bairro e chegar à vida adulta, viver várias emoções, retorna para o cenário inicial e, por incrível que possa parecer, reencontra o mesmo senhor idoso que fora seu vizinho décadas atrás. Este personagem, então, atônito, entra na casa deste senhor e chega até repousar num dos quartos.

Em determinado momento, acorda como se estivesse num sonho sonâmbulo, e faz num tom bem infantil um comentário sobre sua mãe – que já era falecida. A impressão que tive ao ler este conto de Hesse, autor alemão reconhecido por ‘Sidarta’, ‘Demian’ e ‘O lobo da estepe’, entre outras narrativas marcantes, foi a que o personagem entrou numa cápsula do tempo e reviveu a sua infância, os seus dramas, os seus traumas e seus sonhos.

O único bar conhecido para mim em Springfield, a terra dos Simpsons, é o bar do Moe. E o Moe é um personagem tão incrível quanto este senhor da novela enxuta do Herman Hesse. Sempre gostei da atmosfera do bar do Moe, e dei muitas risadas com as cenas onde Homer e seus amigos conversam depois do expediente de um dia inteiro de trabalho.

Recentemente um amigo de escola retornou à minha cidade natal, Paraguaçu Paulista, depois de uma longa temporada em São Paulo onde se dedicou à música. Com talento e originalidade, fundou uma banda de rock. Ao lado dos componentes do conjunto Capim Maluco, realizou uma turnê na Alemanha, conhecendo várias cidades e a cena cultural da terra de Herman Hesse. Nos últimos dias da turnê alemã, saboreou um hotdog com chucrute e mostarda. Jamais esqueceu aquele sabor, anotou  a receita e, agora, está servindo este sanduíche universal com o toque alemão em Paraguaçu Paulista.

O ‘Hotdog do Grunge’ – este é o nome que ele batizou seu estabelecimento, e é inspirado no estilo de rock nascido em Seattle, EUA, tendo o Nirvana e o Kurt Cobain (1967-1994) como bons expoentes do movimento grunge – fica na avenida Siqueira Campos, nº 473-A, no centro de Paraguaçu Paulista, e vem recontando a história do cachorro-quente da estância turística. O cachorro-quente surgiu por lá nos anos de 1970, pelo que me contaram, e as kombis ficavam paradas na rua Irmã Gomes, na parte detrás da igreja matriz.

Nos anos de 1980 quem dominou a cena do hotdog nas noites de sábados, após as sessões de cinema no Teatro Lucila Nascimento, ou nas de domingo, depois da missa na matriz de Nossa Senhora da Paz, foi a Jandira. O cachorro-quente completo da Jandira, assim como o bauru se tornou patrimônio imaterial de Bauru e o chinelão um dia poderá ser de Marília, tem tudo para fazer parte da história gastronômica de Paraguaçu. Mas, agora, a estância turística que fica a 80 quilômetros da Cidade Símbolo de Amor e Liberdade, voltou a ganhar um cachorro-quente de ‘responsa’.

O hotdog do Grunge – com a receita que o músico Rafael Laguna trouxe da Alemanha de Herman Hesse – começou a entrar na história das gerações atuais de Paraguaçu Paulista. Para mim, além de ser uma viagem gastronômica pelas ruas de Berlim e com a atmosfera de Seattle, o local virou uma espécie de bar do Moe da minha Springfield: lá estou reencontrando amigos e amigas que fizeram parte das histórias que vivi em Paraguaçu. Virou, também, a cápsula do tempo do conto de Hesse, pois tanto para mim quanto para o Rafa, parece que nem se passaram mais de 30 anos e, minutos atrás, estamos deixando o colégio depois da manhã de aula e voltando para as nossas casas, onde reencontraremos as nossas famílias para mais um dia da infância. Aliás, a escola onde estudamos fica a menos de 100 metros do hot dele. O Insta do Hotdog do Grunge, o autêntico cachorro-quente gringo, é @hotdogrunge. Sigam lá e quando estiverem em Paraguaçu, conheçam.

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