Um relatório da World Weather Attribution (WWA, na sigla em inglês), uma iniciativa científica internacional, revelou nesta quinta-feira, 4, que a ventania e as condições quentes e secas, que impulsionaram um dos piores incêndios florestais na Península Ibérica no último mês, têm 40 vezes mais chances de se repetirem devido às mudanças climáticas. Dados analisados por 13 cientistas apontaram que as condições extremas devem acontecer de novo a cada 15 anos, enquanto há previsão de ondas de calor tórridas a cada 13 anos.
As ondas de calor, segundo o estudo, aconteceriam uma vez a cada 2.500 anos se não houvesse aquecimento global. Para chegar aos resultados, os pesquisadores examinaram a “Classificação Diária de Severidade” (DSR), uma métrica que considera temperatura, umidade, velocidade do vento e chuva para calcular a intensidade de um incêndio florestal e qual será o grau de dificuldade para controlá-lo.
O estudo se concentrou nos 10 dias mais intensos da DSR a cada ano e nos 10 dias mais quentes de cada verão (inverno no Hemisfério Sul) no noroeste da Espanha e no norte de Portugal. Oito pessoas morreram e milhares tiveram de ser retiradas de suas casas.
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Mudanças climáticas
Hoje, o clima é 1,3°C mais quente em comparação aos níveis pré-industriais. Alimentados por ventos fortes, pela vegetação seca e por uma onda de calor que se estendeu por 16 dias, incêndios florestais queimaram mais de 1 milhão de hectares de terra na União Europeia (UE) de junho até agosto, uma área equivalente a duas vezes o Distrito Federal.
Juntos, Portugal e Espanha concentram dois terços do total da devastação. As florestas em chamas na UE emitiram 38 milhões de toneladas de dióxido de carbono até agora neste ano, segundo o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais da União Europeia (Effis). Isso coloca 2025 no caminho para quebrar o recorde anual de 41 milhões de toneladas de CO2 liberadas pelo bloco europeu.
“O clima extremo está se tornando mais frequente, mas mortes e danos podem ser evitados”, alertou Theodore Keeping, pesquisador do Centro de Política Ambiental do Imperial College London, à agência de notícias Reuters. “Em caso de incêndios florestais, há uma necessidade urgente de controlar a vegetação em áreas rurais, especialmente em terras abandonadas por agricultores e pastores”, acrescentou. “Em última análise, porém, o mundo precisa parar de queimar petróleo, gás e carvão.”