Laços Eternos: A História da família Matias que venceu o tempo e a distância

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Nos últimos anos, o mundo tem assistido ao enfraquecimento dos laços familiares, especialmente com a crescente digitalização e o individualismo que marcam a sociedade contemporânea. Porém, as histórias de famílias como a dos Matias nos lembram da importância de manter a união e o vínculo familiar, algo que parece estar se perdendo no decorrer das gerações.

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A história começa com a Primeira Grande Guerra, que devastou economias e levou muitos a procurar novos horizontes. Entre os imigrantes portugueses que deixaram sua terra natal em busca de melhores condições estavam os avós de Zuleida Ortiz Tavares Costa. Em 1916, em meio ao sofrimento econômico, sua avó, Mariana das Neves, e seu esposo Antônio Vieira decidiram deixar Portugal e se estabelecer no Brasil. Eles se mudaram para Marília, no interior paulista, onde enfrentaram os desafios de um novo começo em uma terra estranha.

Movida por uma promessa à avó, Zuleida enfrenta distâncias e saudades para reunir a família espalhada pelo Brasil, Portugal e França

Antes de se fixarem em Marília, a família passou 12 anos em Araraquara, onde Mariana e Antônio trabalharam arduamente para garantir um futuro melhor para seus filhos. Quando a ferrovia chegou a Marília em 1928, a mudança foi inevitável. Compraram um terreno de Bento de Abreu, fundador do distrito de Marília, e ali construíram uma pensão que acolhia imigrantes, incluindo alemães que vieram trabalhar na cervejaria Bavária.

Mário Silva e Zuleida Ortiz foram homenageados pela Câmara Municipal e familiares

A vida foi difícil, mas a família nunca perdeu a esperança. Zuleida, neta de Mariana, cresceu ouvindo as histórias de sua avó sobre a saudade que sentia dos parentes em Portugal e na França, especialmente depois de se estabelecer no Brasil. Com o tempo, Mariana se viu distante de todos, sem poder voltar a Portugal devido à distância, à falta de recursos e à Primeira Grande Guerra, que havia marcado sua vida de forma indelével.

Zuleida fez uma promessa à sua avó: um dia, ela reuniria a família, que havia se dispersado entre o Brasil, Portugal e França. Mais de 50 anos depois, em 2014, Zuleida e seu esposo, Emanuel Tavares Costa, embarcaram para Portugal para cumprir a promessa. Com muita dificuldade, conseguiram localizar os registros e, com isso, restabeleceram os laços com os parentes distantes.

O reencontro foi emocionante, especialmente porque um primo de Zuleida, Mário Marques da Silva, estava montando a árvore genealógica da família. Foi a partir dessa pesquisa que a conexão entre os Matias de Portugal e os descendentes brasileiros foi reestabelecida.

De Portugal ao Brasil e França, os Matias mantêm viva a união de 856 famílias espalhadas pelo mundo

Hoje, os Matias formam uma grande rede familiar, com 856 famílias espalhadas por Portugal, Brasil e França. Em 2022, o primeiro Congresso da Família Matias foi realizado em Fátima, Portugal, e em 2025, o segundo evento acontecerá em Marília, Brasil, reunindo membros de diferentes partes do mundo.

Sem perder a tradição familiar

Zuleida, agora mais velha, vê com tristeza o afastamento das gerações mais jovens das tradições familiares. Ela lamenta que, na era digital, muitos jovens se desconectaram das suas raízes, vivendo a vida por meio de telas e redes sociais, mas sem o mesmo vínculo afetivo de antigamente.

Em um mundo cada vez mais individualista, onde as reuniões familiares se tornaram raras e os laços de afeto enfraqueceram, momentos como esse Congresso da Família Matias são fundamentais para resgatar a importância da união.

Mário Silva veio de Portugal para o encontro. Em sua fala, ressaltou que o maior valor desses encontros não é apenas o fato de estarem juntos fisicamente, mas o resgate dos valores fundamentais da família: “carinho, amizade, união e respeito. Ele reconhece que as gerações mais novas muitas vezes vivem de maneira mais isolada e desconectada do mundo familiar. E é essencial que essa conexão seja mantida, não apenas por meio de encontros, mas também por meio da transmissão dos valores que sustentam essas famílias”.

Para Mário, estar juntos vai além da presença: é manter viva a essência da família

Zuleida compartilhou sua preocupação com o futuro da família:

“Hoje, os mais jovens sabem tudo sobre o mundo, mas muitos não sabem nada sobre os membros da própria família.” Ela acredita que o convívio familiar e o cuidado com os laços afetivos são cada vez mais essenciais, especialmente em um tempo onde o individualismo ameaça enfraquecer os laços que sustentam a sociedade.

Mário, em sua reflexão sobre o encontro, enfatizou a importância de dar valor à família enquanto ainda se está em vida. “É importante transmitir aos mais jovens as dificuldades que nossos antepassados enfrentaram para que hoje possamos viver de forma mais confortável,” afirmou.

Ele também se emocionou ao lembrar da partida de Mariana para o Brasil, com seis filhos, deixando para trás os pais e irmãos, sem nunca mais retornar. “Hoje, um século depois, estamos aqui reunidos, conhecendo nossos primos, sobrinhos e até tios-avós. Esse momento é muito significativo, muito bonito,” disse ele, visivelmente emocionado.

A família de Arminda dos Santos, que veio da França, também compartilhou essa sensação de perda de contato entre os membros da família.

Arminda dos Santos veio da França com dez membros da família

“Hoje em dia, as pessoas estão cada vez mais isoladas, vivendo em suas próprias bolhas, com os celulares. Aquele almoço de domingo em família, que era tradicional, está cada vez mais distante. É importante que a gente se lembre disso e recupere esses momentos de convivência,” afirmou.

A história da família Matias, com suas dificuldades, superações e reencontros, é um retrato vívido do que a união familiar representa em tempos de crise. Em um mundo onde as relações muitas vezes se tornam superficiais e frágeis, o exemplo dessa família nos ensina que o vínculo familiar é uma das bases mais sólidas para a construção de uma sociedade mais unida e resiliente.

Através de encontros como o Congresso da Família Matias, se reafirma a importância de manter esses laços vivos e passá-los adiante às novas gerações, para que o sentimento de pertencimento, carinho e apoio mútuo não se perca com o tempo.

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