O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou nesta quarta-feira, 1º de outubro, que o Exército do país vai reforçar o cerco à Cidade de Gaza, a maior do enclave, emitindo um alerta final para que habitantes locais fujam para o sul. Os militares de Israel iniciaram uma invasão terrestre à região em setembro, provocando o deslocamento forçado de centenas de milhares de pessoas, que dizem não ter para onde correr.
“Esta é a última oportunidade para os moradores de Gaza que desejam se mudar para o sul e deixar os agentes do Hamas isolados na Cidade de Gaza”, disse Katz em um comunicado. “Aqueles que permanecerem serão considerados terroristas e apoiadores de terroristas.”
Nesta semana, os militares israelenses informaram que 780 mil pessoas deixaram a cidade desde a primeira ordem de evacuação, em 9 de setembro.
Desafios humanitários
Antes da operação terrestre na região, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) garantiram que a infraestrutura humanitária no sul do enclave estava preparada para receber “o volume populacional esperado que se deslocaria do norte de Gaza”. A agência militar israelense que coordena a ajuda a Gaza, conhecida como COGAT, também afirmou que “a transferência de alimentos, equipamentos médicos e suprimentos para abrigos foi intensificada”.
Mas essa não é a realidade relatada pelos palestinos, agências humanitárias e organizações internacionais, como as Nações Unidas. A maioria das pessoas que estava abrigada na Cidade de Gaza eram refugiados de outras partes do enclave que já tinham visto suas casas destruídas por bombardeios, tendo sido deslocadas múltiplas vezes. Poucos podem arcar com o custo de alugar uma minivan para transportá-los com o que resta de seus pertences. Barracas para acampamentos improvisados, que custam 150 shekels (pouco menos de R$ 240), estão sendo vendidas a preços 20 vezes mais altos.
De acordo com grupos de ajuda humanitária, o enorme fluxo em direção ao sul sobrecarregou ainda mais os serviços humanitários, que, eles dizem, não eram suficientes mesmo antes da chegada de milhares de pessoas. Olga Cherevko, porta-voz do escritório humanitário das Nações Unidas que trabalha em uma zona humanitária no enclave, disse que há “centenas de pessoas sentadas à beira da estrada, em estado de choque, sem nada”.
“Os hospitais estão completamente lotados”, acrescentou Cherevko. “O fornecimento de água está em um dos níveis mais baixos que já vimos. Há todos os tipos de doenças.”
Cruz Vermelha encerra operações
Desde o início da ofensiva terrestre, segundo grupos de ajuda, os esforços para aliviar o agravamento da crise humanitária em Gaza sofreram interrupções significativas. No norte, onde centenas de milhares permanecem na Cidade de Gaza, a entrega de alimentos e ajuda foi severamente reduzida.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) afirmou nesta quarta-feira que a intensificação das operações militares forçou a organização humanitária a suspender temporariamente todas as operações em seu escritório na Cidade de Gaza e realocar sua equipe para o sul, de modo a “garantir a segurança da equipe e a continuidade operacional”.
Embora socorristas, incluindo o Crescente Vermelho Palestino e a defesa civil, tenham trabalhado “incansavelmente para prestar socorro”, o CICV afirmou que sua capacidade de chegar com segurança à população foram “severamente restringidas”.
As Nações Unidas afirmaram que as autoridades israelenses também negaram ou impediram cerca de metade de suas tentativas de levar ajuda do sul para o norte de Gaza nas últimas semanas. Isso, segundo a porta-voz Cherevko, reduziu em dois terços a capacidade de cozinhas humanitárias prepararem refeições.
Acusações contra Israel
As ações militares de Israel no enclave e seu efeito sobre os civis foram amplamente criticados e deixaram o país isolado internacionalmente. No mês passado, uma comissão da ONU que investiga a guerra afirmou que o país está cometendo genocídio contra palestinos, acusação que o governo israelense negou.
Em agosto, o IPC, mais confiável termômetro sobre a fome no mundo, concluiu que a Cidade de Gaza e seus arredores estavam oficialmente em situação de fome, com pelo menos meio milhão de pessoas expostas à inanição, desnutrição aguda e morte. Israel negou as conclusões do relatório e criticou a metodologia do painel.
Autoridades israelenses argumentam que permitem a entrada de comida suficiente em Gaza, mas que ela é roubada ou que as agências de ajuda humanitária são ineficazes na distribuição. As Nações Unidas e outros grupos afirmam que Israel frequentemente nega ou atrasa solicitações para coletar caixas de suprimentos que aguardam na fronteira e levá-los para o enclave com segurança, entre outros desafios.