Há roupas que carregam o movimento em sua própria essência, com tecidos que dançam com o corpo como se o vento estivesse costurado entre suas fibras. É o caso da calça balonê, também conhecida como calça Aladim, que conquistou o guarda-roupa contemporâneo como um signo de liberdade e estilo. Sua história começa há séculos no Oriente, peça tradicionalmente larga nos quadris e ajustada nos tornozelos, desenhada para movimentos soltos. No Ocidente, foi rebatizada de harem pants, ou calças harém, em tom pejorativo, imortalizada no imaginário pop pelo mítico personagem árabe e Jasmine, do desenho animado da Disney.
Nos anos 1990, o modelo foi resgatado pelo estilo boho-chic de ícones como Madonna e Kate Moss, tornando-se emblema de uma rebeldia confortável em festivais e clubes. Hoje, a peça vive renascimento para lá de elegante. Marcas como a francesa Chloé, sob o comando de Chemena Kamali, lideraram seu retorno às passarelas, combinando-a com tops de renda e acessórios anos 1970. A Zimmermann e a Alaïa seguiram o caminho, apresentando versões em seda fluida e cortes arquitetônicos. O segredo deste revival está na proporção: cintura marcada, tecidos nobres e contrapontos modernos que a transformam em uma peça de guarda-roupa real, distante da fantasia.

O sucesso se deve principalmente ao conforto e à capacidade de valorizar a silhueta, alongando as pernas e afinando a cintura de forma natural. “Tanto que é usada por homens e mulheres”, diz o stylist Paulo Martinez. “Sendo que valoriza ainda mais a silhueta feminina, deixando-a muito mais bonita.” Depois da pandemia, a busca por esse equilíbrio entre elegância e bem-estar tornou a calça uma peça-chave. Nas redes sociais e no street style, ela vai do casual ao sofisticado, desde que seja combinada com camisas estruturadas ou coletes de alfaiataria. Na versão contemporânea, as balloon pants — nome usado para definir variações mais volumosas — surgem até em couro, contrapondo a ideia de que são apenas para o verão.
No Brasil, Isabella Fiorentino vira e mexe mostra versões mais urbanas, e Camila Queiroz apostou no modelo durante toda a sua gravidez. No fundo, vestir uma calça balonê é mais do que seguir uma tendência; é uma declaração de um estado de espírito livre. São peças de uma poesia visual única, que refletem um tempo que valoriza a fluidez, o drapeado natural e a sensação da pele sob o tecido. Como um tapete mágico, elas nos convidam a pairar acima da rigidez do cotidiano, em um voo leve.
Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967













