O importante é competir — e, mais que isso, competir em condições equilibradas. Ainda não é o que ocorre com a indústria brasileira diante dos concorrentes globais. No ranking mais recente de competitividade industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil apareceu em último lugar entre dezoito países analisados. Fatores como ambiente macroeconômico, afetado por alto custo do capital e elevadas taxas de juros, atraso no desenvolvimento humano e na educação, pesaram negativamente no desempenho nacional. Em áreas como produção de baixo carbono e capacidade de exploração de recursos naturais, o país ficou na modesta 12ª posição. Na realidade, não figuramos na metade superior em nenhum dos indicadores avaliados. Para a indústria brasileira, portanto, a corrida agora é de recuperação. “Acreditamos que os efeitos positivos da reforma tributária e a abertura de um leque maior de acordos comerciais bilaterais têm potencial para reposicionar a indústria brasileira diante do mundo”, afirma Frederico Lamego, superintendente de relações internacionais da CNI. “Estamos atrasados e precisamos acelerar para não sermos ultrapassados por outros emergentes.”

A inovação é um dos motores mais poderosos da competitividade e há consenso entre especialistas de que países que investem de forma consistente em pesquisa, tecnologia e desenvolvimento ampliam sua presença nas cadeias globais de valor. Nesse campo, uma iniciativa que completa dezessete anos — a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) — acumula resultados expressivos. Reunindo 600 grandes e médias empresas de diversos setores, sob a coordenação da CNI, o grupo tem sido decisivo para o avanço de políticas públicas voltadas a pesquisa e desenvolvimento (P&D). Entre suas conquistas estão a criação da Lei do Bem, que concede incentivos fiscais a investimentos em P&D, e a reativação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que neste ano opera com orçamento recorde de 14,6 bilhões de reais para o financiamento da inovação industrial.
Com a participação de 28 unidades do Instituto Senai de Inovação, o programa MEI ampliou sua atuação para coordenar pesquisas aplicadas em áreas estratégicas, como biossintéticos, minerais, materiais fibrosos e polímeros. Um estudo feito pela Universidade de Lund, na Suécia, em parceria com o instituto alemão Fraunhofer, revelou que a inovação gerada por essa rede contribuiu, em média, com 0,66% do PIB brasileiro ao ano na última década. “É um resultado excepcional”, diz Holger Kohl, diretor do Fraunhofer.

Exemplos concretos mostram como a aposta em inovação tem transformado empresas brasileiras em protagonistas globais. A catarinense WEG é um dos casos mais emblemáticos: presente em 135 países, obtém mais da metade de seu faturamento com produtos lançados nos últimos anos — como motores elétricos de última geração e soluções de eficiência energética — e destina cerca de 1 bilhão de reais por ano a pesquisa e desenvolvimento. “A inovação é um dos motores do nosso sucesso”, afirma Alberto Kuba, presidente executivo da WEG.
A agenda de inovação também está no centro da estratégia da empresa de aeronaves Embraer, que vive um momento singular de integração entre produção consolidada e apostas tecnológicas. O cargueiro KC-390 Millennium se tornou um sucesso global, com contratos firmados com Portugal, Hungria e Áustria, além de vendas no Brasil e de negociações em andamento com outros países. A empresa investe 5% da receita anual em pesquisa e desenvolvimento, mantém mais de 700 patentes registradas e opera cinco centros de pesquisa dedicados a novas tecnologias aqui, nos Estados Unidos e na Europa. Entre seus projetos estratégicos está o eVTOL — sigla em inglês para veículo elétrico de decolagem e pouso vertical — desenvolvido pela subsidiária Eve Air Mobility, que planeja iniciar operações comerciais em 2026. A combinação de inovação tecnológica, expansão internacional e visão de futuro consolida a Embraer como uma das líderes globais em aviação sustentável.
Estudos internacionais demonstram que países com sistemas de inovação sólidos — capazes de gerar patentes, atrair investimentos em pesquisa e integrar universidades, governo e empresas — são também aqueles que mais ampliam sua competitividade global. O Brasil ainda percorre esse caminho, buscando transformar potencial científico e capacidade industrial em presença no mundo. A CNI lembra que o país já reúne empresas inovadoras, mas ainda carece de um mecanismo capaz de conectar de forma eficiente universidades, setor produtivo e poder público. Sem essa articulação, o conhecimento gerado pela pesquisa científica se dispersa e raramente se transforma em ganho econômico ou em tecnologia competitiva capaz de enfrentar os gigantes globais. O desafio agora é acelerar esse movimento e fazer da inovação não apenas uma aspiração, mas o principal vetor do desenvolvimento industrial do país.
Publicado em VEJA de 31 de outubro de 2025, edição nº 2968


 
											












 
															