Há exatos quinze anos, mineiros chilenos eram resgatados após 69 dias: relembre

Em 13 de outubro de 2010, há exatos 15 anos, um bilhão de pessoas em todo o mundo estavam de olhos fixos na TV, no início da madrugada, para ver os momentos finais do resgate dos 33 mineiros soterrados por 69 dias no deserto do Atacama, no Chile, após uma explosão em uma mina. A enorme audiência global, comparável à de uma final de Copa do Mundo, se deve ao interesse despertado pelo drama de características únicas vivido pelos mineiros, como mostra reportagem de VEJA na edição 2.180, de 1º de setembro de 2010.

A matéria de capa mostrava a extensão do drama e sua importância para a ciência. “O confinamento de 33 mineiros a centenas de metros de profundidade é uma experiência humana única de sobrevivência em situações extremas que pode trazer ensinamentos para a medicina, para a psicologia e até para as viagens espaciais”.

O acidente de 2010 comoveu o mundo e foi retratado com riqueza de detalhes. “A temperatura de 30 graus, a elevada umidade do ar e a poeira da mina tornam o ambiente insalubre como o de uma caverna. Nos primeiros dezoito dias, os mineiros perderam, em média, 10 quilos cada um e se mantiveram com a pouca comida disponível na sala de emergência da mina. Cabiam a cada um deles, em intervalos de 48 horas, meio copo de leite, meio biscoito e duas colheres de peixe enlatado. A água para beber era retirada do sistema de resfriamento das máquinas de escavação (…) Cinco deles foram diagnosticados com depressão, com base nas imagens de vídeo e nas conversas dos psicólogos com seus familiares.”

VEJA Edição 2180
Os Homens do Abismo (VEJA/VEJA)

Sob uma crise de popularidade, o então presidente do Chile, Sebastián Piñera, assumiu o compromisso de salvar todos os trabalhadores presos, pronto para aparecer nas câmeras enquanto os mineiros eram retirados, um a um, de dentro de uma cápsula metálica usada para fazer o salvamento.

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“No tempo em que eles permaneceram isolados do mundo a 700 metros de profundidade, em condições extremamente insalubres, sua sobrevivência dependia de uma complicada operação logística de resgate por meio de um túnel cavado por uma sonda semelhante às de prospecção de petróleo. A possibilidade de que a manobra fracassasse era real e assustadora. Quando Florencio Ávalos, o primeiro mineiro resgatado, chegou são e salvo ao início do túnel, a bordo de uma cápsula, houve buzinaço em Santiago. As igrejas de todo o Chile repicaram os sinos. Os parentes dos mineiros, acampados próximo ao poço cavado para o resgate, explodiram em euforia e choro. Os 1 500 jornalistas presentes correram para noticiar o acontecimento. Era a prova de que a megaoperação montada para trazer de volta as vítimas do deslizamento na mina de San José, ocorrido em 5 de agosto, dera certo”.

Anos depois, o caso ainda deixava marcas na sociedade chilena. Em 2023, a Suprema Corte do Chile rejeitou um recurso do Estado chileno e o condenou a pagar US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 6,9 milhões) em indenizações aos 33 mineiros. Eles acusavam o Serviço Nacional de Geologia e Minas, o Ministério Regional da Saúde e a Direção do Trabalho de falta de fiscalização nas jazidas nacionais — a mineração corresponde a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) e um terço de todo o cobre do mundo é proveniente do país.

A jazida já havia sido fechada em 2007, após a morte de um trabalhador, mas reabriu sem atender às exigências, que incluíam a construção de uma segunda saída, no ano seguinte. A mina encerrou suas produções com o acidente.

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Antes do julgamento, segundo o jornal chileno El Mercurio, alguns deles já não acreditavam que receberiam qualquer forma de compensação do Estado. Omar Reygadas e Franklin Lobos, estavam entre os desesperançosos — Reygadas disse, inclusive, que “já tinha dado isso a Deus”.

Luis Urzúa , que era gerente de turno no momento do acidente e passou a se dedicar a ministrar conferências sobre segurança do trabalho, disse que a entrega da indenização significava o fechamento de um ciclo. “Isso está estabelecendo um precedente para a mineração no Chile. Para mim o dinheiro não era tão importante, mas que esse ciclo tinha que ser fechado”, afirmou.

A história chamou atenção de Hollywood, que tratou de produzir um filme sobre o drama vivenciado pelos mineiros, estrelado por Antonio Banderas e Rodrigo Santoro. Em 2013, dois anos antes da divulgação do longa-metragem “Os 33”, os ex-funcionários acusaram produtores de forçá-los a assinar contratos irregulares e disponíveis apenas em inglês.

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