Games indie conquistam críticos e fãs com criatividade e força do boca a boca

O sucesso foi instantâneo. Em apenas três dias, houve mais de 5 milhões de cópias compradas. Outros dois dias e mais um salto, chegando a 7 milhões. E então os amantes dos games não pararam de falar do Hollow Knight: Silksong, um jogo de aventura repleto de grutas musgosas, pântanos sombrios e cidades douradas. Seria mais um fenômeno, desses que se repetem com insistência, em uma indústria de entretenimento que arrecada mais do que os filmes de Hollywood, com 188 bilhões de dólares movimentados em 2024 por gigantes como Nintendo e Microsoft. Mas não. Silksong é trabalho de um time de apenas três pessoas, feito ao longo de sete anos. É pro­du­to independente, que cresceu e apareceu como símbolo de uma tendência, a busca por diversão fora do chamado mainstream. A estatística já ampara a onda: estima-se em 300 milhões de dólares o faturamento daqueles que vão na contramão, com aplausos de público e de crítica. Esse patamar já instala os pequenos, digamos assim, no topo da excelência, acima de clássicos como Shadows, novo capítulo da saga Assas­sin’s Creed, lançado em março.

Antes de Silksong, duas outras criações indie fizeram a cabeça de quem se diverte eletronicamente — e não por serem mais baratos, porque não é regra. O quebra-cabeça Blue Prince recebeu resenhas elogiosas por misturar desafios lógicos com estética caprichada, elaborados por um único designer, Tonda Ros. Clair Obscur: Expedition 33, RPG de ação ambientado em uma versão alternativa da Belle Époque francesa, foi desenhado por uma minúscula equipe de desenvolvedores que havia trabalhado em grandes estúdios, como a Ubisoft. Insatisfeitos com as restrições criativas, decidiram aventurar-se por conta própria. Há outro na fila: Hades II, título de ação que mescla elementos da mitologia grega e visual de quadrinhos. A recepção calorosa já o instala entre os favoritos dos queridinhos de 2025.

RPG - Clair Obscur: com visual inspirado na Belle Époque, é candidato a favorito de 2025
RPG - Clair Obscur: com visual inspirado na Belle Époque, é candidato a favorito de 2025 (Kepler Interactive/.)

Como no cinema, as grandes produções costumam chamar a atenção. Ocupam centenas de salas, ancoradas em marketing pesado. Mas nem sempre ganham prêmio e viram clássicos. Andar à margem, o udigrudi, como se dizia no Brasil dos anos 1960, pode ser bom. O que o mercado de games está dizendo (e o cinema poderia aproveitar como sugestão) é que a criatividade é recompensada. Derek Yu, designer de outro reputado “alternativo”, Spelunky, resume: “Os videogames são uma forma de arte ilimitada”. Quem se propõe a pegar um controle quer ser surpreendido.

Publicado em VEJA de 10 de outubro de 2025, edição nº 2965

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