A ex-procuradora-geral do Exército de Israel, Yifat Tomer-Yerushalmi, foi presa no domingo 2 sob suspeita de vazamento de informações sigilosas e abuso de autoridade. Em sua carta de demissão, na semana passada, ela admitiu ter autorizado a divulgação de um vídeo que mostra soldados israelenses agredindo violentamente um prisioneiro palestino, justificando a decisão como uma tentativa de “proteger a credibilidade da Justiça militar”.
Tomer-Yerushalmi renunciou ao cargo de procuradora-geral das Forças de Defesa de Israel afirmando assumir total responsabilidade pelo vazamento. As imagens, captadas em julho de 2024 em um centro de detenção no deserto de Negev, mostram cinco reservistas cercando o detento, algemado e com os olhos vendados, enquanto o espancam com brutalidade. De acordo com o relatório militar, o palestino sofreu fraturas múltiplas, um pulmão perfurado e lesões internas graves, incluindo ferimentos no reto.
Em sua carta de renúncia, a ex-procuradora classificou os presos do local como “terroristas da pior espécie”, mas defendeu a necessidade de apurar suspeitas de abuso. “Existem atos aos quais nem mesmo os detentos mais vis devem ser submetidos”, escreveu.
O caso levou ao indiciamento de cinco soldados, mas nenhum está preso. Em meio à pressão de grupos ultranacionalistas, Tomer-Yerushalmi passou a ser alvo de ameaças e chegou a ser dada como desaparecida por algumas horas no domingo, gerando especulações sobre uma possível tentativa de suicídio. Ela foi localizada por policiais em uma praia próxima a Tel Aviv.
O episódio ilustra o embate no país entre a lealdade aos soldados e a obrigação de preservar o Estado de Direito. O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, determinou “vigilância extrema” sobre a segurança da detenta e celebrou sua saída, pedindo uma apuração mais ampla sobre o sistema jurídico militar. Líderes e apoiadores da extrema direita classificaram os soldados como “heróis nacionais” e atacaram os investigadores como “traidores”.
Organizações de direitos humanos denunciam que casos de tortura e maus-tratos em centros de detenção israelenses aumentaram desde o início da guerra contra o Hamas, em 2023. O Exército nega a existência de uma política sistemática de abusos. Desde o início do conflito, apenas um soldado foi condenado por agressão a um prisioneiro palestino. Nenhum por mortes de civis.


											










