O governo francês gerou polêmica nesta semana após o vazamento de uma carta interna do Ministério da Saúde que orienta hospitais a se prepararem para um possível conflito militar “em grande escala” na Europa até março de 2026. Segundo o jornal satírico Le Canard Enchaîné, a diretiva, enviada em 18 de julho a agências de saúde regionais, pede que os hospitais antecipem a chegada de até 50 mil soldados internados em períodos que podem variar de 10 a 180 dias.
A ministra da Saúde da França, Catherine Vautrin, não negou a existência da carta em entrevista à emissora BFMTV e explicou que se trata de uma medida preventiva. “É parte da preparação, como estoques estratégicos ou protocolos para epidemias. É normal que o país antecipe crises e suas consequências. Isso faz parte da responsabilidade do governo central”, afirmou.
O documento surge em meio a tensões na Europa provocadas pela guerra na Ucrânia, que reacendeu preocupações sobre a possibilidade de um conflito em larga escala.
Anteriormente, a França já havia divulgado planos para enviar a cada domicílio um manual de sobrevivência de 20 páginas, com instruções sobre desastres naturais, crises de saúde ou conflitos armados. O guia recomenda manter pelo menos seis litros de água, 10 latas de comida, lanternas, pilhas e suprimentos médicos.
O plano de preparo militar acompanha ainda a decisão do presidente Emmanuel Macron de dobrar o orçamento da Defesa até 2027, passando de 32 bilhões de euros em 2017 para 64 bilhões de euros, com aumentos intermediários previstos para os próximos anos.
Apesar das críticas e das teorias conspiratórias que circulam nas redes sociais — incluindo acusações de que Macron poderia usar uma guerra para postergar as eleições de 2027, quando seu governo seria testado nas urnas —, as declarações públicas do presidente francês desmentem qualquer intenção de provocar um conflito. Macron defende o rearmamento europeu e o apoio à segurança da Ucrânia, enquanto reforça a necessidade de impedir que a Rússia expanda sua guerra de agressão ao continente, mas sem promover potenciais engajamentos militares.