Imagine o seguinte: você está atravessando uma crise. Vendas caindo, dúvidas se acumulando, clientes sumindo. Aquele momento em que o frio na barriga aparece todo dia, e você se pergunta se fez a escolha certa ao empreender. Agora pense: o que segura sua equipe nesses momentos? O que faz com que, mesmo diante da tempestade, ainda haja pessoas comprometidas, dando o melhor de si?

A resposta não está em um sistema de metas. Não está em um plano de cargos e salários. E nem mesmo na remuneração variável.

Está na cultura.

Cultura não é um cartaz na parede com palavras bonitas. É o jeito de ser da sua empresa. É o que se vive no dia a dia, quando ninguém está olhando. É o que você tolera, o que você reforça, o que você valoriza.

É o motivo pelo qual um funcionário decide ficar. Ou vai embora.

O erro de tratar cultura como perfumaria

Em muitas empresas tradicionais, cultura ainda é vista como algo “bonitinho”, mas não essencial. Fazem uma confraternização de fim de ano, distribuem camisetas com o nome da empresa e acham que isso resolve.

Só que cultura não se constrói com festa. Cultura se constrói com consistência.

Ela está presente nas pequenas atitudes: em como você lida com um erro, em como um líder se comporta quando um cliente reclama, em como são feitas as contratações e as demissões. Cultura é o conjunto de valores vivos, não de frases bonitas.

Contrate pelo encaixe cultural, não apenas por competência

Uma pesquisa global da PwC de 2021 apontou que 72% dos executivos acreditam que a cultura organizacional foi fundamental para o sucesso das iniciativas de transformação em suas empresas. E mais: 69% afirmaram que a cultura é o principal diferencial competitivo no mercado atual. Em outras palavras, cultura não é um detalhe. É estratégia.

“Mas ele é excelente tecnicamente!”. Quantas vezes você já ouviu (ou falou) isso ao contratar alguém?

O problema é que a competência não sustenta uma cultura. O que sustenta é o alinhamento de valores. Uma pessoa tecnicamente excelente, mas que trabalha contra os princípios da empresa, pode minar a equipe por dentro.

Contratar pelo encaixe cultural é entender que nem sempre o melhor currículo é a melhor escolha. É buscar gente que acredita no que você acredita, que quer crescer junto, que tem orgulho de fazer parte da empresa. É gente que inspira.

Zappos, uma das maiores lojas virtuais dos Estados Unidos, ficou conhecida por pagar US$ 2.000 para qualquer novo funcionário que decidisse sair da empresa após a primeira semana de treinamento. A ideia era simples: se a cultura não for pra você, não fique. Melhor sair cedo do que contaminar o ambiente depois.

Quando a cultura é forte, a equipe se autoajusta

Empresas com cultura forte não precisam de fiscal para tudo. A própria equipe se regula. Se algum comportamento fugir do que é aceitável, os colegas percebem e corrigem.

É como num time de futebol: quando todo mundo quer vencer, ninguém aceita corpo mole. Não precisa o técnico gritar. O próprio grupo cobra, orienta, puxa junto.

Essa é a diferença de uma cultura viva. Ela não depende do dono estar presente. Ela se sustenta sozinha. E isso dá liberdade para o empresário sair do operacional e focar no estratégico.

Cultura é aquilo que você repete

Warby Parker, por exemplo, criou um time interno só para pensar na cultura. Promovem encontros regulares, almoços entre colegas sorteados e até dinâmicas para reforçar a colaboração. Já na Adobe, os gestores atuam como mentores — não como chefes — e não usam notas para avaliar pessoas. Isso elimina o medo do julgamento e fortalece um ambiente de criatividade e confiança.

Não existe cultura forte sem rituais. Rituais são os momentos em que você reforça o que é importante. Pode ser a reunião semanal com a equipe, a forma de reconhecer um bom desempenho, os almoços com quem está aniversariando no mês. O que importa não é o tamanho do gesto, mas a frequência.

Dentro de uma empresa, os rituais culturais mais poderosos costumam ser os mais simples e frequentes: a reunião semanal de alinhamento, o feedback constante entre líderes e equipe, o reconhecimento sincero diante de atitudes alinhadas com os valores da empresa. Esses são os momentos que reforçam a cultura e moldam o comportamento coletivo dia após dia.

Cultura se forma pelo que você repete. E se enfraquece pelo que você tolera.

O que fazer quando a pessoa não encaixa

Mesmo com todo cuidado, às vezes a contratação não encaixa. E não estamos falando de desempenho técnico, mas de postura, atitude, valores.

Quando isso acontece, o primeiro passo é buscar compreensão. A pessoa entendeu qual é a cultura da empresa? Teve treinamento adequado? As expectativas estão claras? Se não, você precisa assumir sua parte na responsabilidade.

Mas se mesmo com tudo isso a pessoa continua desalinhada, é preciso agir. Tolerar o desalinhamento cultural contamina a equipe. E uma cultura contaminada custa caro. Muito caro.

Cultura não é um modelo único

Não existe cultura “certa” ou “errada”. Existe a cultura que faz sentido para você, para seu estilo de liderança, para a visão de empresa que você quer construir.

O que importa é ter clareza. Saber o que você valoriza. O que é inegociável. O que você quer ver no comportamento da equipe.

Na dúvida, pergunte:

  • Que tipo de empresa eu quero liderar?
  • Quais comportamentos eu quero ver todos os dias aqui dentro?
  • Que tipo de pessoa não pode trabalhar aqui, mesmo que seja excelente?

As respostas a essas perguntas definem sua cultura.

Cultura devora a estratégia no café da manhã

Por outro lado, empresas como a antiga Twitter mostram o que acontece quando a cultura se perde. A equipe que antes elogiava a liberdade, os rituais e o espírito colaborativo passou a viver sob pressão, cortes e desconfiança. O resultado? Queda na moral, fuga de talentos e perda da identidade da marca.

Essa é uma frase famosa atribuída a Peter Drucker, o pai da gestão moderna. E ela continua atual.

Você pode ter a melhor estratégia do mundo, o melhor plano de ação, os melhores indicadores. Mas se a cultura não sustenta tudo isso, o castelo desmorona.

A cultura é o solo sobre o qual você constrói a sua empresa. Se esse solo é frágil, qualquer vento forte derruba. Se é sólido, pode vir crise, concorrência, pandemia. A empresa resiste. Porque as pessoas ficam. Porque acreditam.

Cultura é o que transforma um grupo em um time

Para empresas menores, com equipes entre 10 e 50 pessoas, a cultura pode parecer algo distante ou reservado a grandes corporações. Mas justamente nesses ambientes menores ela é ainda mais perceptível. Cada atitude, cada conversa, cada escolha tem um peso maior. O impacto de um líder desalinhado é sentido imediatamente. O comportamento de um colaborador pode contaminar — ou inspirar — todo o grupo.

Nessas empresas, a cultura é construída no café, nas reuniões rápidas, na forma de dar feedback e resolver conflitos. Não precisa de um manual com 40 páginas. Precisa de exemplo, clareza e repetição.

No fim das contas, cultura é o que separa um bando de gente trabalhando junto de um time jogando pelo mesmo objetivo. É o que transforma o ambiente de trabalho num lugar de crescimento, orgulho e realização.

E aqui vai um lembrete: você, como líder, é o principal guardião da cultura. Ela começa em você. No seu exemplo. No que você tolera, no que você corrige, no que você valoriza.

Porque no final do dia, como dizemos aqui na Hack: crescimento não é vaidade, é estratégia de sobrevivência — e uma cultura forte é o solo onde esse crescimento se sustenta, mesmo quando o mercado balança.

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