O controle da Reag Investimentos foi posto à venda após a gestora ser um dos principais alvos da Operação Carbono Oculto deflagrada na última quinta-feira, 28, por uma força-tarefa liderada pela Polícia Federal. Em um curto fato relevante divulgado nesta segunda-feira 01, a gestora informa que a Reag Capital Holding SA (Reag Holsa) “encontra-se em tratativas visando potencial alienação do bloco de controle da REAG Investimentos1 com potenciais interessados independentes. As tratativas compreendem, entre outros, a troca de informações sujeitas a acordos de confidencialidade e discussões preliminares sobre termos e condições econômicos e contratuais da possível transação.”
A Reag Holsa detém 63,93% do capital da Reag Investimentos. Além disso, pessoas vinculadas à holding detêm mais 23,45% das ações da gestora. Assim, 11,68% dos papéis estão em circulação no mercado e 0,14% estão na tesouraria da própria gestora. Fundada em 2012 e controlada por João Carlos Mansur, a Reag Investimentos é atualmente a maior gestora independente do país. Como administradora, papel em que cuida da parte burocrática de um fundo, a Reag administra 625 carteiras que somam um patrimônio líquido de 238 bilhões de reais.
Como gestora, posição em que decide como o dinheiro dos cotistas será investido, opera 579 fundos ativos, isto é, cujo objetivo é superar um determinado benchmark. O patrimônio líquido sob sua gestão totaliza 209 bilhões de reais.
Ainda de acordo com o fato relevante desta manhã, “neste momento, não há garantia de que as negociações resultarão na celebração de documento vinculante ou na consumação de qualquer transação, nem definição de preço, estrutura final ou cronograma.”
A Carbono Oculto é uma das três operações lançadas pela Polícia Federal na última quinta-feira para apurar um esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). As outras duas são a Task, concentrada na atuação da facção no Parána, e a Quasar, que foca na lavagem do dinheiro por meio de instituições financeiras. A Carbono Oculto é a maior das trêss. Sozinha, ela investiga como a organização criminosa opera uma rede de 1 000 postos de combustível em dez estados para lavar o dinheiro oriundo de crimes como tráfico de drogas e roubos.
A Carbono Oculto estima que 52 bilhões de reais em dinheiro sujo foram repassados de 2020 a 2024 aos postos em espécie ou por meio de maquinhas controladas pelo próprio PCC, via empresas de pagamento como a BK Bank. Apenas essa fintech movimentou 46 bilhões de reais para o esquema. Aproveitando-se de brechas na legislação, tais fintechs abriam contas-bolsão em bancos tradicionais para movimentar o dinheiro em nome dos clientes. Devido a lacunas na lei, as fintechs não eram obrigadas a informar a origem e a titularidade do dinheiro nas contas-bolsão. Tampouco eram obrigadas a informar quaisquer movimentações de seus clientes para fins de Imposto de Renda, por exemplo.
A Reag aparece na etapa seguinte – a de ocultação do patrimônio. Segundo os investigadores, fundos de investimento fechados (isto é, cujas cotas não são negociadas na bolsa) e exclusivos (contam com apenas um cotista) eram usados para ocultar e multiplicar o patrimônio do PCC. De acordo com a Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público, 42 fundos integravam o esquema, dos quais 12 estavam sob a guarda da Reag.
Gestores experientes da Faria Lima, o centro financeiro do país, afirmaram à VEJA, sob condição de anonimato, que é sim possível para as gestoras independentes, como a Reag Investimento, detectar possíveis tentativas de lavagem de dinheiro. “Todo fundo exclusivo deve passar por rigorosas regras de compliance”, diz um dos gestores. Os procedimentos envolvem desde a investigação da origem do dinheiro, as atividades do candidato a cotista de um fundo exclusivo, a apuração de potenciais riscos reputacionais etc. “Se a Reag cumprisse o protocolo básico de apuração, já barraria esses fundos”, diz outro gestor.
Veja a íntegra do fato relevante divulgado nesta segunda-feira sobre a negociação do controle da Reag Investimentos:
Os fatos que mexem no bolso são o destaque da análise do VEJA Mercado: