Um comitê da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos divulgou nesta terça-feira, 2, mais de 30 mil páginas relacionadas ao caso Jeffrey Epstein, bilionário acusado de tráfico sexual de adolescentes que cometeu suicídio na prisão em 2019. Mas os documentos liberados, que incluem entrevistas com vítimas, geraram uma onda de críticas de democratas por já terem sido, na sua maioria, publicados antes — há, portanto, poucas informações inéditas sobre o escândalo sexual comandado pelo financista que caiu em desgraça.
“As 33.000 páginas de documentos de Epstein (que o comitê) decidiu ‘divulgar’ já eram, em sua maioria, informações públicas”, disse o deputado democrata Robert Garcia, da Califórnia, que fez parte do painel liderado por republicanos, em comunicado. “Ao povo americano — não se deixem enganar por isso.”
Epstein conviveu com milionários de Wall Street, membros da realeza (notadamente, o príncipe Andrew) e celebridades antes de se declarar culpado de exploração sexual de menores em 2008. As acusações que o levaram à prisão em 2019 ocorreram mais de uma década após um acordo judicial que o protegia. Ele foi encontrado morto por enforcamento pouco mais de um mês após parar atrás das grades.
Como promessa de campanha, o presidente Donald Trump disse que liberaria os documentos relacionados ao caso Epstein caso retornasse à Casa Branca. Em janeiro, quando o republicano tornou públicos arquivos sobre a investigação, um clima de insatisfação tomou conta: as informações divulgadas já eram conhecidas. Pressionado, Trump virou alvo de uma teoria da conspiração dentro da sua base política, a Make America Great Again (MAGA), de que está em uma lista secreta de pessoas que se beneficiavam do esquema de Epstein.
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(Quase) nada de novo
Uma análise do Washington Post dos documentos divulgados nesta terça mostrou que cerca de dois terços deles são documentos judiciais de investigações relacionadas a Epstein que já estavam sobre domínio público. O restante, segundo Garcia, são 1.000 páginas do registro da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA sobre os locais de voo do avião de Epstein, de 2000 a 2014. Essas informações estavam mais detalhadas do que as disponibilizadas pela procuradora-geral Pam Bondi no início deste ano.
“A primeira parcela parece ser, em grande parte, de domínio público, então não parece ser realmente o material que deveríamos estar divulgando”, disse o deputado democrata Raja Krishnamoorthi, de Illinois, parte do Comitê de Supervisão. “Fico feliz que eles tenham produzido, mas vamos tratar do resto, o mais rápido possível.”
Em resposta, um porta-voz do comitê prometeu que novos materiais sobre Epstein serão divulgados em breve, informando que “o Departamento de Justiça de Trump está cumprindo a intimação do Comitê e está fornecendo documentos continuamente”. Os esforços tentam aplacar um esforço bipartidário que pressiona para que os documentos sejam completamente liberados. Os deputados Thomas Massie, republicano do Kentucky, e Ro Khanna, democrata da Califórnia, buscam tornar os arquivos públicos através de uma petição de quitação, uma manobra processual que poderia forçar uma votação no plenário da Câmara para obrigar o DOJ a publicar os documentos.
Massie e Khanna realizarão uma coletiva de imprensa nesta quarta com cerca de uma dúzia de sobreviventes dos abusos de Epstein do lado de fora do Capitólio dos EUA. Acredita-se que algumas das sobreviventes falem publicamente pela primeira vez, de acordo com o The Washington Post. Os irmãos de Virginia Giuffre, vítima de Epstein e que morreu por suicídio aos 41 anos em abril, também aparecerão em um comício “Stand With Survivors”.