Representantes da Páscoa, os coelhos, por vezes, são escolhidos para substituírem os presentes e ovos de chocolate. Sem responsabilidade, o devido preparo e experiência com o animal, muitos acabam por abandoná-los após a data em um ato de desrespeito e crueldade. Um cenário que se repete ano após ano.
Por que os coelhos são tão populares na Páscoa?
Conhecidos por serem animais muito fofos, os coelhos chamam atenção das crianças. Engraçados e silenciosos, se tornam uma boa opção para famílias. O problema é que a decisão de ter um coelho, geralmente, vem acompanhada de falsas crenças e pouco conhecimento a respeito dos cuidados necessários com esse animal, além da irresponsabilidade.
Aumento na procura por coelhos durante a Páscoa
Com a chegada da Páscoa, vemos aumentar a oferta de chocolates em lojas e supermercados e, em muitos locais, cresce também a procura pelos orelhudos.
Dalila é representante de coelhos mini em Ribeirão Preto (SP) e detalha que nessa época, a demanda aumenta. “Na Páscoa, a procura por coelhos dobra e já aconteceu de triplicar. Cerca de 80% das pessoas compram o animal para presentear crianças”.
O abandono de coelhos: um problema crescente
Ela explica que os coelhos menores são os mais procurados e que é muito comum que tutores tentem devolvê-los quando ficam maiores ou desenvolvem certos comportamentos naturais da espécie, como roer móveis e outros itens da casa ou cavar. “As pessoas esperam os animais crescerem e perderem aquela imagem de ‘fofinho’ e, então, tentam doá-los ou abandonam sob a desculpa de que o filho perdeu o interesse ou outros animais da casa não se adaptaram ao coelho, por exemplo”.
Sabine Fontana é fundadora do Adote um Orelhudo, um projeto pessoal pioneiro no Brasil, sem fins lucrativos, que resgata e protege coelhos abandonados. A ideia de criar a ONG surgiu ao notar um grande número de coelhos abandonados em um parque de Florianópolis, onde vive. “Vi a necessidade de criar algo voltado à conscientização contra a compra de coelhos e posterior abandono, assim como encontrar lares para esses animais.”
Ela conta que o parque dispunha de recintos para patos e jabutis, e aceitava também os coelhos. “As pessoas simplesmente abandonavam por lá. Eram cerca de 40 coelhos por ano. Em 2017, houve um caso de abandono em que de uma única vez uma família de 8 a 9 coelhos foi deixada no Jardim Botânico da cidade. Sem contar os que são abandonados em terrenos baldios.”
Para Sabine, ao adotar ou adquirir um coelho, as pessoas não pensam nas responsabilidades futuras de ter um animal e isso as leva à cruel opção de abandoná-los. “Muitos podem ter mudanças bruscas de vida e não pensam se o coelho terá espaço nessas mudanças. Recebemos muitas mensagens de tutores querendo doar seus coelhos porque vão se mudar e não terão espaço para ele, vão estudar no exterior e a família não quer cuidar, entre várias outras situações que expõe o animal ao abandono por irresponsabilidade humana.”
A protetora animal hoje possui 10 coelhos em sua casa, sendo 4 especiais: dois com síndrome do cão nadador, 1 com splay legs, além de uma coelha paraplégica, a Sofia. Ela foi atropelada na rua, em circunstâncias desconhecidas, numa cidade em Minas Gerais. Foi resgatada da rua em sofrimento e deixada em uma clínica. “Uma mulher se compadeceu e a levou para casa, mas por não conseguir mais cuidar dela, pediu ajuda para doá-la. Mas raramente coelhos doentes ou deficientes conseguem ser adotados, justamente porque as pessoas só querem animais saudáveis. É dessa forma que muitos chegam até mim”, conta Sabine.
Sofia é um triste exemplo das consequências da adoção ou aquisição irresponsável de um animal, que ao não atender às expectativas do tutor é abandonado à própria sorte e precisa lutar para sobreviver à fome, doenças, predadores e até aos acidentes em áreas urbanas. Para adotar um coelho, assim como qualquer outro animal, é preciso entender seus hábitos e peculiaridades e estar disposto a se adaptar a eles. Além disso, é preciso uma avaliação honesta de suas próprias condições de oferecer o que o animal precisa para ter qualidade de vida, afinal, animais não são descartáveis.
A difícil sobrevivência dos coelhos abandonados
Iris Zanata tem como missão pessoal ajudar, resgatar e encontrar lares responsáveis para os coelhos. Ela, que estuda sobre esses bichos para melhor atendê-los, já recebeu em sua casa mais de 100 deles. Ela conta como pode ser difícil para um coelho criado em cativeiro sobreviver ao ser abandonado. “Na natureza, o coelho é presa até mesmo de gambás e furões. O animal criado em cativeiro tem uma alimentação diferenciada e muito cuidadosa, a depender do que comer, ao lutar pela sobrevivência, pode sofrer alguma obstrução, que, além de causar sofrimento, pode levar à morte. As pessoas têm a falsa ideia de que eles sobreviverão se forem deixados no mato, mas a verdade é que não vão.”
Na próxima Páscoa, pense bem antes de adquirir um coelho. O abandono não deve nunca ser uma opção.