Capivaras: vizinhas simpáticas, mas nada domesticáveis

Por. Dr. Saulo Gonçalves Pereira (Biólogo, Pedagogo e Doutor em Saúde animal)

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A capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) é o maior roedor do mundo (é um “ratão”), e não, isso não é exagero. Adultos chegam a pesar entre 35 e 65 kg e podem medir mais de 1,2 metro de comprimento, ou seja, são praticamente um “cachorro-gigante vegetariano”, só que com hábitos bem diferentes.

Adaptadas à vida semiaquática, possuem patas parcialmente palmadas que fazem delas nadadoras de respeito. São animais sociais, que vivem em bandos de 10 a 30 indivíduos, mas, quando a seca aperta, juntam-se em grupos ainda maiores.

Seu ambiente preferido? As margens de rios, lagoas e áreas alagáveis da América do Sul, onde encontram fartura de água e vegetação rasteira para sustentar o apetite sempre em dia.

Apesar da aparência tranquila, aquela cara de quem nunca brigou com ninguém, as capivaras estão longe de ser “pets de chácara”. São animais silvestres com funções ecológicas relevantes.

Entre elas, destaca-se a de dispersoras de sementes: ao comerem e se deslocarem, carregam material vegetal no trato digestivo ou até grudado no pelo, contribuindo para regenerar matas ciliares e banhados.

Além disso, ajudam a controlar a vegetação herbácea, funcionando como uma espécie de “jardinagem natural” nos ecossistemas alagadiços. É um trabalho gratuito e contínuo de manejo da biodiversidade, sem precisar de motopoda.

bando de capivaras
As capivaras são animais sociáveis, que costumam viver em bandos (Foto: Reprodução)

O problema começa quando esse convívio natural se aproxima demais das cidades. As capivaras são hospedeiras do carrapato-estrela (Amblyomma sculptum), vetor da febre maculosa brasileira (Rickettsia rickettsii). O risco não está no abraço ou na selfie, mas no carrapato infectado que pode transmitir a bactéria ao humano.

Estudos também apontam a presença de anticorpos de Leptospira spp. em populações de capivaras, sugerindo que elas podem atuar como reservatórios dessa bactéria.

Para complicar, análises recentes encontraram metais pesados nos excrementos desses animais em áreas urbanizadas, indicando que eles também funcionam como bioindicadores da poluição. Ou seja: além de fofas, são também um alerta ecológico ambulante.

E, claro, há a questão da convivência direta. Embora muitas vezes descritas como dóceis, capivaras podem reagir quando se sentem acuadas.

Em Brasília, um episódio famoso envolveu um homem atacado no Lago Paranoá por uma capivara “irritada”, que lhe deu dentadas nas costas.

O caso viralizou com piadas sobre o “dia de fúria da capivara”, mas serviu de lembrete: selvagem é selvagem. Pesquisas em Campo Grande mostraram que bandos urbanos mudam seus hábitos quando há grande presença humana, evitando áreas muito movimentadas e alterando seus padrões de atividade.

Não à toa, cidades como Campinas e Fortaleza já elaboram planos de manejo para reduzir riscos à saúde pública e ao mesmo tempo garantir a preservação da espécie.

Confira a matéria completa “Capivaras: vizinhas simpáticas, mas nada domesticáveis”, na íntegra e sem custo, acessando a página 56 da edição de outubro (nº 314) da Revista Cães e Gatos.

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