Reconhecimento de síndrome lança novo olhar à obra da mais antiga pintora e escritora em atividade na cidade; exposição segue até dia 31

Por Rodrigo Viudes

Após mais de sete décadas dedicadas às artes plásticas, Cleusa Novak, a artista mariliense com maior tempo em atividade em Marília expõe, apenas pela segunda vez, com exclusividade em um espaço municipal.

No entanto, a mostra “Harmonia em Cores”, em cartaz desde o último dia 16 na Galeria de Artes do Complexo Cultural “Braz Alécio”, no centro de Marília, ganhou singularidade por causa de uma recente descoberta pessoal.

Aos 78 anos, Cleusa Novak é a artista plástica em atividade há mais tempo em Marília, com sete décadas dedicadas às artes

Aos 78 anos, é a primeira vez que Cleusa Novak apresenta-se ao público após relatório médico recebido em dezembro de 2023 que a identificou como uma pessoa com Transtorno Espectro Autista (TEA).

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A novidade lança um novo olhar à obra da artista, cujas expressões pintadas e escritas seguem expostas até o próximo dia 31. Presente na exposição no último sábado (18), ela atenderá o público também no próximo (25).

“Está tudo muito bem organizado, o lugar combinou. Estou feliz”, afirmou a artista, mais focada em elogiar o espaço que falar de si. “Vou pintar mais. Paisagismo, casarios e flores em guardanapos”, complementou.

ARTE E RELIGIÃO

A avaliação psiquiátrica explica o hiperfoco – característica comum aos autistas – da artista à sua arte, manifestado desde a primeira infância e sua dedicação à religião, principal inspiração a todas suas expressões artísticas.

Na literatura, descobriu-se ainda na adolescência uma poetisa, e depois contista e cronista, com dezenas de livros publicados de forma independente, caracterizados por suas ilustrações delicadas e angelicais.

Alfabetizada apenas com ensino primário. Cleusa Novak já publicou dezenas de livros de poesias e contos

O mais antigo de seus quadros expostos na Galeria de Artes, datado de 1975, é ‘Jesus Cristo’, pintado a lápis de cor. Mas sua primeira obra sacra, uma reprodução idêntica de uma igreja de Aparecida (SP), completará 60 anos em outubro.

O quadro ‘Jesus Cristo’ (1975), de 73,5 x 90 centímetros, foi todo pintado a lápis de cor por Cleusa Novak

Além de quadros, em que desfila seu talento autoditada em acrílico e nanquim em diferentes estilos, um painel de poesias escritas e pintadas à mão revelam o mundo colorido, puro e próprio de Cleusa Novak.

Painel expõe cópias de dezenas de poesias escritas e pintadas à mão por Cleusa Novak

As cópias expostas podem ser adquiridas, assim como a maioria dos quadros – ‘Antiga Estrada da Fazenda’, por exemplo, é do acervo municipal. O acesso à exposição é gratuito, das 9 às 17 horas, de segunda a sexta-feira e das 13 às 17 horas, aos sábados.

‘A caminho da fazenda’ é obra do acervo municipal de Cultura, doada por Cleusa Novak

CURADORIA DIGITAL

Após a exposição, a obra de Cleuza Novak poderá ser conferida em breve em um acervo digital a ser disponibilizado no futuro site da Galeria Municipal de Artes, vinculada à Secretaria Municipal de Cultura.

A bibliotecária Ana Laura idealizou e conduz projeto de catalogação digital das exposições da Galeria Municipal de Artes

“A ideia é digitalizar e catalogar as obras expostas e fazer um mapeamento dos artistas da cidade”, explicou a bibliotecária Ana Laura Silva Xavier, cujo projeto, aprovado pela Secretaria Municipal da Cultura, está em fase de implantação.

Além de Cleuza Novak e do próprio artista que denomina o Centro Cultural, o pinto Braz Alécio (1929-2019), outros artistas de Marília da atualidade como Juraci Neris e Aloisio Dias da Silva deverão ter suas obras catalogadas no acervo digital.

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