Quando Donald Trump decidiu impor uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro em agosto, o gesto foi visto, inicialmente, como um golpe político, uma demonstração de força voltada a proteger produtores americanos e reforçar a retórica nacionalista. Dois meses depois, os efeitos concretos dessa medida estão redesenhando os fluxos do comércio global de café.
Em setembro, a Alemanha ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o principal destino do café do Brasil, com 654,6 mil sacas importadas, o equivalente a 17,5% de tudo que o país exportou no mês, segundo o relatório divulgado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Os embarques para os EUA, por outro lado, despencaram 52,8% na comparação com setembro de 2024.
Desde a imposição da tarifa, o preço médio do café brasileiro nos EUA subiu cerca de 40%, tornando-se menos competitivo frente a origens como Honduras e Vietnã. Essa mudança levou importadores americanos a renegociar contratos e reduzir compras de blends brasileiros, tradicionalmente usados por grandes torrefadoras e redes de cafeterias.
Enquanto os EUA se retraem, a União Europeia consolida-se como o grande destino do café brasileiro. Juntos, os países do bloco responderam por mais de 60% das exportações em setembro. A Alemanha, que abriga um dos principais polos de torrefação e reexportação do continente, ampliou sua participação, aproveitando-se da desvalorização do real e dos custos logísticos menores em relação à rota americana.
A lista dos dez maiores compradores do café brasileiro em setembro revela um realinhamento global. Alemanha e Itália continuam na dianteira europeia, seguidas por Japão, Bélgica e Holanda. Mas o dado mais curioso vem da Colômbia – tradicional concorrente do Brasil na produção do arábica -, que entrou pela primeira vez entre os dez maiores destinos, com um salto de 567% nas compras na comparação com setembro de 2024.
O aumento, segundo o Cecafé, não reflete uma inversão estrutural do mercado, mas uma necessidade temporária: o país vizinho tem enfrentado problemas de safra e buscado suprir o mercado interno e, em parte, reexportar o grão dentro do regime de drawback, que concede benefícios fiscais à importação de insumos voltados à exportação.
Apesar do choque comercial, a performance financeira do café brasileiro em 2025 tem surpreendido. De janeiro a setembro, o país exportou 29,1 milhões de sacas , uma queda de 20,5% em volume em relação a 2024, mas com receita 30% maior, totalizando US$ 11,05 bilhões. Em setembro, as exportações brasileiras de café caíram 18,4%, somando 3,75 milhões de sacas de 60 kg, o menor volume para o mês em três anos. Ainda assim, a receita cresceu 11,1%, alcançando US$ 1,37 bilhão, sustentada pela valorização dos contratos futuros e pela alta dos preços internacionais do arábica.
O fenômeno reflete não apenas os preços elevados, mas também uma estratégia mais sofisticada dos exportadores, que têm direcionado o produto para mercados premium e contratos de cafés especiais.
Os destinos do café brasileiro
- Alemanha com 654,6 mil sacas, que correspondem a 17,5% do total vendido no período
- Itália, com 334,65 mil sacas importadas (8,9%)
- Estados Unidos, com 332,83 mil sacas importadas (8,9%)
- Japão, com 219 mil sacas (5,8%)
- Bélgica, com 185,11 mil sacas (4,9%)
- Holanda, 150,93 mil sacas (4,3%)
- Turquia, com 150 mil sacas compradas (4%)
- Espanha, com 142,37 mil sacas compradas (3,8%)
- Colômbia, com 107,28 mil sacas compradas (2,9%)
- Canadá, com 106,93 mil sacas compradas (2,9%)
Fonte: Cecafé













