O tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos atingiu em cheio setores exportadores brasileiros, mas não paralisou a Timbro. A trading global com bandeira brasileira cresceu 10 vezes em cinco nos e mantem sua previsão de faturar 25 bilhões de reais em 2025 graças a uma estratégia que há anos guia suas decisões: diversificação. “Esse é o nosso principal diferencial”, diz Bruno Russo, fundador e vice-presidente da empresa.
Além de negociar produtos, a empresa vem ampliando investimentos logísticos, como o centro automotivo multimarcas no Espírito Santo, estruturas dedicadas a gigantes da construção civil e o laboratório da Jaguar Land Rover para homologação de veículos elétricos e híbridos.
Única brasileira multiprodutos, a Timbro, que figura entre as maiores trading do Brasil, comercializa 40 commodities e movimenta 40 mil contêineres por ano. Essa estratégia de diversificação não apenas blindou o negócio diante do salto de 3% para 50% nas tarifas cobradas pelos Estados Unidos, como deveria inspirar o Brasil a adotar uma postura mais ampla de abertura e diversificação comercial. “O Brasil deveria continuar com essa intenção, e abrir o leque, fazer mais conversas com grandes economias pelo mundo, buscando ter uma realocação daquilo que está sendo afetado nos Estados Unidos”, diz.
Russo diz que o país precisa de uma empresa como a Timbro. “Uma empresa brasileira realmente global”, diz. “Muitos países têm quatro ou cinco grandes tradings com presença global, que faturam individualmente mais do que o Brasil exporta sozinho”. O modelo consolidado no exterior é representado por gigantes como a americana Cargill, a anglo-suíça Glencore ou as japonesas Mitsui, Sumitomo, diz. “ No Brasil, eu acredito que a Timbro é a única que tem essa atuação”, diz.
Os efeitos do tarifaço
Na prática, o tarifaço do presidente americano afetou duas operações da empresa: a venda de açúcar e de óleos vegetais para os Estados Unidos. “Para a operação e açúcar a gente buscou novas origens, como Guatemala e Colômbia.Mas a gente exportava para óleo vegetal para indústria, principalmente pet americana, e esse deixou de ser um negócio viável para nós e para os compradores”, diz o executivo que também lembra do impacto logístico no início do ano. “Quando Trump começou a impor sanções contra a China, os fretes de contêiner saltaram de 2 500 para 6 000 dólares, antecipando embarques. Bagunçou o fluxo logístico como um todo e foi bem difícil”.
Grande parte dos negócios estão no Oriente, especialmente China, Índia, Bangladesh, Coreia do Sul, Japão. “São países que compram muitas das commodities do Brasil. Mas temos negócios na Europa também e países do Oriente Médio”, diz.
Com grandes operações de minérios, grãos e algodão, que são também produzidos pelos Estados Unidos, a empresa tem atravessado não apenas esse, mas momentos de incerteza em geral com uma certa tranquilidade. “Fundamos a empresa há 15 anos, a gente sempre buscou crescer de forma orgânica, diversificando o máximo possível para que não houvesse dependência de um setor ou cliente específico”, diz. A atuação diversificada permitiu à Timbro direcionar esforços e foco nas operações com as maiores margens de lucro em outros momentos de turbulência.” Já passamos por diversos testes de estresse. Cito as mais recentes, pandemia, greve dos caminhoneiros, questões políticas de impeachment”, diz.
Do ponto de vista do caminho para o Brasil, ele lembra que o país é um celeiro de commodities e sempre encontrou alternativas em momentos de restrição. “Historicamente, sempre fomos muito bons em conseguir novos parceiros comerciais”, diz.
Investimentos em logística
Além da diversificação, a empresa também aposta na ampliação da atuação logística para continuar crescendo. “A gente tem buscado verticalizar as operações, ou seja, ter cada vez mais investimentos em ativos logísticos que gerem valor pra cadeia de negócios como um todo.”
Entre os principais investimentos logísticos estão o centro automotivo no Espírito Santo, que recebe veículos de várias marcas, incluindo a parceira BYD, e centros dedicados a clientes globais da construção civil, como Sunny e XCMG.
Russo cita ainda o laboratório arrendado da Jaguar Land Rover para homologação de veículos elétricos e híbridos: “A gente percebeu que havia um gargalo enorme por conta da transição energética, ou seja, várias marcas chegando ao Brasil, as marcas estabelecidas também, precisando renovar o portfólio. E uma fila que chegava a durar até mais de um ano para homologar um novo veículo, com a nossa entrada no setor, caiu para dois meses e meio.”