“Eu quero mocotó!”, foram essas três palavras que, acompanhadas de uma releitura do quadro Independência Ou Morte, de Pedro Américo, levaram à prisão de Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o chargista Jaguar, em 1970, durante a ditadura militar.
Publicada no jornal Pasquim – do qual o cartunista foi um dos principais fundadores -, o desenho faz referência a música cantada por Érlon Chaves, “Eu Também Quero Mocotó”. Na época, o termo era usado como um sinônimo para pernas femininas.

Foi depois de uma apresentação no Festival Internacional da Canção de 1970, no Maracanãzinho, que a trilha virou alvo da ditadura militar. Cercado por mulheres com trajes chocantes para a época, Érlon interpretou a composição de Jorge Ben Jor. O show culminou na prisão do cantor, que foi logo liberado mas passou 30 dias proibido de se apresentar em todo o território nacional.
No jornal, a representação de Jaguar do episódio também não foi bem recebida pelos militares, que mandaram soldados até a sede do Pasquim, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, e determinaram a detenção de quem estivesse por lá.
O resultado foi o encarceramento de Ziraldo, Luiz Carlos Maciel, Paulo Francis, Fortuna e um gerente administrativo do jornal por três meses, na Vila Militar. Durante este tempo, Millôr Fernandes, com a ajuda de alguns voluntários, manteve o veículo em funcionamento. No periódico, ele atribuiu a ausência dos demais companheiros a uma suposta “gripe”, que foi entendida pelos mais atentos como um código para prisão.
Em entrevistas a diferentes veículos ao longo de sua vida, Jaguar lembrou do episódio como sempre fez, com humor. Referia-se ao tempo na cadeia como um dos melhores momentos de sua vida, em que teve tempo para beber muito sem se preocupar com obrigações.
Vida e obra
Nascido em 29 de fevereiro de 1932, no Rio de Janeiro, o chargista Sérgio Jaguaribe, que ganharia notoriedade em todo o Brasil com o apelido Jaguar, foi um dos membros fundadores do jornal Pasquim, em 1969 – onde trabalhou ao lado de Ziraldo, Sérgio Cabral, Henfil, Millôr Fernandes, Tarso de Castro e Paulo Francis. No veículo, nomeado por ele, fez sucesso com o icônico ratinho SIG, inspirado pelo psicanalista Sigmund Freud.
Suas obras estamparam o período de enfrentamento aos tempos mais duros da ditadura militar, no auge do Ato Institucional n°5, decretado em 1968 pelo presidente Arthur da Costa e Silva. Com a implementação da medida, passaram a ocorrer a cassação de mandatos, suspensão de direitos políticos, censura da imprensa e das artes e a prisão de opositores.
Jaguar morreu no último domingo, 24, na mesma cidade em que nasceu, por consequência de uma infecção respiratória que evoluiu para complicações renais, aos 93 anos.