O deputado Danilo Forte (União-CE) não mede palavras ao tratar da crise de segurança pública que tomou conta do país. Em entrevista ao Ponto de Vista, da VEJA, o parlamentar reagiu duramente à fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que classificou como “matança” a megaoperação policial no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos. Para Forte, o termo está mal aplicado. “Matança é o que acontece todos os dias no Brasil, quando o crime organizado executa trabalhadores e empresários porque eles se negam a pagar extorsão”, disse.
O deputado, autor do projeto de lei que equipara facções criminosas a organizações terroristas, afirmou que o país vive uma guerra silenciosa — e que o Estado tem reagido com lentidão e omissão. “O Brasil mata mais na violência e no crime organizado do que muitas guerras pelo mundo. Só no Ceará, foram mais de 4 mil assassinatos no ano passado. Isso é que é matança”, declarou.
Do crime à política
Forte foi além: denunciou o avanço do poder paralelo das facções sobre a política local, especialmente no Nordeste. “No Ceará, já é uma realidade. Mais de trinta prefeitos eleitos têm algum tipo de vínculo com o crime organizado, segundo relatórios da Polícia Federal. Esses grupos já estão dentro do sistema, decidindo leis e, daqui a pouco, anistiando o crime”, alertou.
O parlamentar afirma que seu projeto — que tramita na Câmara dos Deputados — busca criar uma barreira legal contra o avanço das facções. “A lei precisa garantir que a polícia prenda e a Justiça não solte. O que estamos propondo é uma tipificação que permita ao Estado agir com o mesmo rigor que outros países utilizam contra o terrorismo”, defendeu.
A inversão de papéis
Na entrevista, o deputado cearense descreveu uma cena que, segundo ele, simboliza o colapso do Estado. “Aqui no Ceará, o crime organizado toma casas de famílias em conjuntos habitacionais. E, em vez de a polícia prender os criminosos, acaba ajudando na mudança das famílias de bem. O patrimônio de quem trabalhou a vida toda está sendo entregue a bandidos”, relatou.
O parlamentar afirma que a situação chegou ao limite e cobra unidade institucional para enfrentar o problema. “Foi preciso o episódio do Rio de Janeiro para o Brasil acordar. A guerra já existe — o que falta é o Estado decidir que lado quer vencer. Ou o Brasil vence o crime organizado, ou o crime acaba com o Brasil.”
Entre o discurso e a omissão
Ao comentar a fala de Lula sobre a operação no Rio, Danilo Forte afirmou que o presidente “erra o alvo” ao tratar as ações policiais com desconfiança. “Quando ele chama de matança uma operação contra facções, passa o recado de que o inimigo é o policial, e não o traficante. Isso desmoraliza as forças de segurança”, criticou.
Para o deputado, o país precisa abandonar o discurso ideológico e adotar uma postura pragmática. “Não adianta esconder o problema ou tentar tratá-lo com leniência. O clima de guerra já está instalado. Agora, precisamos vencê-la — com leis fortes, coragem política e o apoio da sociedade.”













