Com o governo federal em shutdown, analistas e investidores americanos ficam temporariamente privados de um dos indicadores mais aguardados da economia: o relatório oficial de empregos do Departamento do Trabalho, o payroll, que é amplamente usado pelo Federal Reserve como termômetro da saúde econômica e referência para decisões de política monetária. Em meio a essa lacuna, os dados do Relatório Nacional de Emprego da ADP forneceram um raro termômetro do mercado de trabalho, revelando que o setor privado criou 42.000 vagas em outubro.
Embora represente uma recuperação após dois meses de crescimento quase nulo, o número é modesto quando comparado ao início do ano, quando as contratações privadas ultrapassavam regularmente 200.000 vagas por mês. “Em outubro, os empregadores privados criaram vagas pela primeira vez desde julho, mas as contratações foram modestas”, diz Nela Richardson, economista-chefe da ADP.
O crescimento salarial anual manteve-se em 4,5% para quem permaneceu no emprego e 6,7% para quem mudou de posição, confirmando a tendência de estabilidade observada nos últimos doze meses. “O crescimento salarial permanece praticamente estável há mais de um ano, indicando que oferta e demanda de mão de obra estão equilibradas”, observa Richardson.
O crescimento de outubro não foi uniforme. Comércio, transporte e serviços públicos adicionaram 47.000 vagas, enquanto educação e saúde contribuíram com mais 26.000 postos, refletindo setores relativamente resistentes a ciclos econômicos. Por outro lado, setores ligados a tecnologia, consultoria e lazer continuaram a registrar perdas: informação (-17.000), serviços profissionais/empresariais (-15.000) e lazer/hospitalidade (-6.000).
A distribuição por porte de empresa também é reveladora: grandes empregadores (mais de 500 funcionários) foram responsáveis por 73.000 vagas, enquanto médias e pequenas empresas apresentaram crescimento mais contido. Isso sugere que corporações maiores estão absorvendo parte do ajuste estrutural do mercado, funcionando como amortecedores em tempos de incerteza.
A falta de dados oficiais do governo amplifica a relevância do relatório da ADP, que se baseia em 26 milhões de folhas de pagamento privadas. Com a paralisação governamental, os investidores dependem cada vez mais de fontes privadas e proxies para estimar a saúde do mercado de trabalho e calibrar expectativas sobre política monetária e consumo. A leitura de outubro sugere resiliência, mas também evidencia fragilidades setoriais e uma recuperação desigual. O próximo relatório da ADP está agendado para 3 de dezembro de 2025, oferecendo mais uma prévia do mercado antes que o Bureau of Labor Statistics volte a publicar dados oficiais.













