O presidente Lula levou uma semana para comentar a operação das forças de segurança do Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho.
Em sua primeira fala sobre a ação, Lula buscou reparar uma nota oficial divulgada por ele na semana passada — coisa de assessoria, claro — sobre a ação nos complexos da Penha e do Alemão.
Em vez da defesa da união de governos contra o crime organizado, Lula voltou ao seu figurino original de esquerda e defendeu uma investigação paralela sobre a ação da polícia e não contra as facções.
“Vamos ver se a gente consegue fazer essa investigação. Porque a decisão do juiz era uma ordem de prisão, não tinha uma ordem de matança — e houve matança”, disse Lula.
“Até agora nós temos uma versão contada pela policia, contada pelo governo do estado, e tem gente que quer saber se tudo aquilo aconteceu do jeito que eles falam ou se teve alguma coisa mais delicada na operação”, seguiu o petista.
Lula voltou a ser Lula porque não há outro figurino a vestir. O petista da nota oficial de terça-feira passada, que evitou condenar a ação policial, soou irreal demais. Surgisse Lula agora dizendo que traficante não é vítima, seria um desgaste maior, porque o petista não conquistaria os votos dos eleitores que defendem o discurso “linha dura” contra o crime e ainda desagradaria eleitores de esquerda que concordam com essa visão do traficante vítima da sociedade.
Entre disputar a agenda da direita, que navega melhor que a esquerda no tema de segurança pública, e ser puramente um político de esquerda, Lula foi pelo caminho já conhecido.
Num post na internet, exaltou as apreensões de drogas, as operações que causaram prejuízos financeiros e outros resultados colhidos pelo seu governo contra o crime. A questão crucial para a popularidade do discurso de direita — e da ação no Rio –, no entanto, ficou fora dessa lista.
Lula nada disse sobre o combate aos criminosos e a retomada de territórios, ponto onde a ação da polícia do Rio de Janeiro mais conquistou o apoio da sociedade, ainda que não tenha livrado ninguém da presença do crime organizado nas comunidades.
Aos familiares dos policiais que morreram tentando prender marginais armados com fuzis e preparados para a guerra, o petista nada disse.
Candidato à reeleição contra o grupo do governador Cláudio Castro, Lula jamais reconheceria algum avanço na ação do governo fluminense.
Ao levantar a bandeira da tal “investigação paralela” contra os policiais que enfrentaram os traficantes, Lula aposta no discurso de abuso policial contra os criminosos — as tais vítimas da sociedade. Polariza o tema como se tudo não passasse de uma questão eleitoral.













