Combate ao crime fortalece a direita, mas nova pesquisa traz um alerta

A escalada da violência no Rio de Janeiro e a megaoperação policial nas comunidades da Penha e do Alemão provocaram uma virada na agenda política nacional, segundo o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest. Em entrevista ao programa Ponto de Vista, apresentado por Marcela Rahal, Nunes afirmou que a segurança pública ultrapassou a economia como principal preocupação do eleitor e que o tema deve dominar o debate político nos próximos meses — abrindo espaço para a direita, desde que suas ações não pareçam oportunistas.

“O sucesso do governador Cláudio Castro mostra que o eleitor está disposto a premiar quem enfrenta o problema, mas só se acreditar que o movimento é sincero. Se parecer eleitoreiro, o efeito desaparece”, avaliou Nunes.

Castro ganha 17 pontos e vira símbolo da “agenda da segurança”

A pesquisa Quaest, divulgada nesta semana, mostra que a aprovação do governador Cláudio Castro (PL) no quesito segurança pública saltou de 22% em agosto para 39% em outubro — um avanço de 17 pontos percentuais em apenas dois meses. A avaliação negativa, por outro lado, caiu de 45% para 34%.

“Mais de 54% dos fluminenses acreditam que o governador ordenou a operação para combater o crime, enquanto só 40% acham que ele agiu por interesse eleitoral. É isso que explica o salto na aprovação”, detalhou Nunes.

O cientista político destacou que o episódio transformou a segurança pública em um ativo político da direita, após meses em que o governo federal vinha se beneficiando de uma “onda positiva” — impulsionada por temas como o tarifaço, a reaproximação de Lula com Donald Trump e a retomada da pauta econômica.

Da crise do Pix à guerra nas favelas: a inflexão do debate público

Nunes traçou uma linha do tempo da opinião pública em 2025: O ano começou com a crise do Pix, que desgastou o governo; seguiu com o colapso do INSS, que manteve o tema social no centro da agenda; e depois veio a discussão sobre soberania e tarifas, quando o Planalto conseguiu se recuperar politicamente.

Agora, afirma o analista, o eixo do debate mudou novamente, e o foco se deslocou para a violência e o crime organizado.

“Desde outubro, vemos uma inflexão clara. A segurança pública passou a ser a pauta dominante, tanto nas redes quanto nas pesquisas de opinião. Isso abre espaço para a oposição — mas apenas se ela souber convencer o eleitor de que tem solução real para o problema”, disse.

“Não basta reagir — é preciso ter projeto”

Para Nunes, a direita tem uma oportunidade rara de rearticular sua narrativa política, mas corre o risco de desperdiçar o momento se o debate se limitar a slogans.

“A oposição precisa convencer o eleitor de que é mais competente do que o governo para cuidar da segurança. Mas isso exige consistência. Não basta levantar bandeira — tem que mostrar plano, gestão e resultados”, afirmou.

Ele citou o exemplo do governador Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), que tem 88% de aprovação no estado, em parte pelo foco na segurança e pela percepção de eficiência administrativa.

“É o caso de Caiado. Ele é visto como quem entregou resultados concretos. O eleitor percebe isso. Quando o discurso é verdadeiro, o apoio vem naturalmente”, resumiu.

O desafio para Lula e para a oposição

Segundo Nunes, o governo federal entra na nova fase de debates em desvantagem, já que a segurança pública historicamente é uma pauta em que a esquerda se mostra frágil. Por outro lado, a oposição ainda não consolidou uma liderança nacional capaz de traduzir o tema em um projeto político abrangente.

“O debate da segurança não é fácil. Se virar só bandeira ideológica, morre rápido. O eleitor quer firmeza, mas também quer inteligência, coordenação e resultado. A direita precisa entender isso se quiser transformar a pauta em vitória eleitoral”, concluiu Nunes.

A pesquisa da Quaest aponta que a segurança pública deixou de ser um tema periférico e passou a ser o centro gravitacional da política brasileira. Cláudio Castro colhe os primeiros dividendos, mas o recado do eleitor, como resume Felipe Nunes, é direto: “Apoio existe — desde que pareça verdadeiro.”

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