O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), fez duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ministro da Justiça Ricardo Lewandowski e à proposta de criação da chamada PEC da Segurança Pública, apresentada pelo governo federal após a crise no Rio de Janeiro. Em entrevista ao programa Ponto de Vista, apresentado por Marcela Rahal, Caiado classificou a ideia de centralizar ações de combate ao crime organizado em Brasília como “uma tentativa de tirar poder dos governadores” e “um desvio da verdadeira discussão sobre segurança”.
“Quero responder ao Lula, ao Lewandowski, à Gleisi Hoffmann, ao Renan e ao Haddad. O problema do Brasil não é da Constituição, é de gestão — é de gestão, estúpidos. Não tentem responsabilizar a Constituição por aquilo que sempre foi a marca do PT: a complacência com o crime e com os faccionados”, disse o governador.
Crítica à PEC e defesa da autonomia dos estados
Caiado reagiu à criação do escritório emergencial de combate ao crime organizado, anunciado em conjunto por Lula e pelo governador do Rio, Cláudio Castro, com apoio do ministro Lewandowski, que o descreveu como “embrião da PEC da Segurança”. Para o goiano, a proposta é um artifício político para concentrar poder no Planalto e enfraquecer as polícias estaduais.
“Essa PEC é apenas um disfarce para retirar dos governadores os poderes que a Constituição de 1988 lhes garantiu. É uma manobra para concentrar tudo em Brasília. E o que é pior: o texto ainda repete artigos e parágrafos que já existem desde 2018, quando Michel Temer aprovou uma legislação de integração da segurança. Não há nada de novo ali, só a tentativa de tomar o controle político do tema”, afirmou.
Caiado, no entanto, disse apoiar a criação de uma lei antifacção, que está sendo elaborada paralelamente pelo governo federal — desde que, segundo ele, não fira a autonomia dos estados.
“Se for para integrar dados e operações, ótimo. Aqui em Goiás a nossa inteligência é integrada com a Polícia Federal, Civil, Militar, Penal e Rodoviária Federal. Isso funciona. O que não aceitamos é invasão de prerrogativas”, disse.
‘Antifacção’ e medidas duras contra o crime organizado
Caiado defendeu publicamente o projeto de lei antifacção, que deve tramitar no Congresso, e antecipou os pontos que pretende levar à discussão com outros governadores. Entre as medidas, estão classificar facções como organizações terroristas e endurecer o regime penal para seus integrantes.
“Temos que chamar as coisas pelo nome. Facções são narcoterroristas. Precisamos de uma lei que diga isso claramente”, afirmou.
O governador listou propostas específicas: Fim da audiência de custódia para criminosos reincidentes; proibição das ‘saidinhas’ e das visitas íntimas para presos ligados a facções; gravação obrigatória das conversas com advogados, para evitar que ordens de assassinato sejam transmitidas das prisões; aumento do tempo mínimo de pena cumprida antes da progressão de regime — de um sexto para até três quintos, no caso de crimes ligados ao tráfico e ao crime organizado.
“Hoje o que desmoraliza as polícias é ver o faccionado ser preso num dia e solto no outro. A sociedade está implorando por justiça. Quer viver em paz, e não sob o medo de bandido que manda matar de dentro da cadeia”, disse Caiado.
Governadores articulam ofensiva em Brasília
O governador revelou que os chefes estaduais da direita — entre eles, Cláudio Castro (Rio), Romeu Zema (Minas), Ratinho Júnior (Paraná) e Tarcísio de Freitas (São Paulo) — estão organizando uma ofensiva política em Brasília para pressionar o Congresso a reforçar o projeto antifacção e rejeitar a PEC do governo.
“Nós, governadores, vamos a Brasília com nossas bancadas para apoiar o relator, deputado Mendonça Filho, e garantir que o texto inclua medidas reais contra o crime. Não aceitaremos um projeto que enfraqueça os estados e proteja bandido”, afirmou Caiado.
Um embate de poder e narrativa
As declarações do governador ampliam o embate entre os governos estaduais da direita e o Palácio do Planalto, que tenta retomar a iniciativa política na segurança pública após o impacto da megaoperação no Rio de Janeiro.
Para Caiado, o governo Lula quer transformar o debate em um discurso institucional, enquanto os governadores buscam mostrar força prática no enfrentamento das facções.
“A população quer ação, não PEC. Quer polícia nas ruas, não fóruns burocráticos. Quer segurança para viver em paz. Essa é a nossa missão, e não vamos recuar”, concluiu.













