O diagnóstico de diabetes em gatos impõe ao médico-veterinário o desafio de alinhar tratamento clínico e suporte nutricional. A dieta, mais do que um complemento, torna-se ferramenta decisiva no controle da glicemia e na manutenção da massa muscular, exigindo um olhar criterioso sobre cada paciente.
Como explica a médica-veterinária e mestre Paula Adriane Piccolo Pieruzzi, coordenadora do curso de Medicina Veterinária no Centro Universitário Facens, a chave está em integrar a avaliação clínica, exames laboratoriais e perfil corporal do animal para definir uma dieta precisa, segura e efetiva.
Segundo Paula, o ponto de partida para definir a alimentação de um gato diabético é sempre a avaliação clínica detalhada, isto é, a realização de uma detalhada anamnese e minucioso exame físico, complementada por exames laboratoriais.
“É essencial determinar o peso corporal atual e o peso ideal, a condição corporal e a massa muscular, já que a obesidade, a sarcopenia ou a perda de massa magra impactam diretamente a sensibilidade à insulina e a resposta ao tratamento”, explica.
Informações sobre ingestão de água, frequência de micção, variação de peso e apetite também oferecem pistas sobre o controle da doença e a aceitação da dieta.
No âmbito laboratorial, o monitoramento da glicemia e da frutosamina é indispensável para acompanhamento do controle glicêmico, assim como os exames de bioquímica sérica, que avaliam a função renal, hepática e o perfil lipídico do paciente.
A especialista lembra que a urinálise é essencial para mapear o status sanitário, enquanto a urocultura e o antibiograma podem identificar infecções urinárias subclínicas, bastante comuns nesses felinos.
“A mensuração da pressão arterial e, em alguns casos, a dosagem de T4 total também são necessárias, já que a hipertensão e os distúrbios tireoidianos interferem na resposta ao tratamento”, reforça.
Esse conjunto de informações sustenta a elaboração de uma dieta individualizada, ajustada ao peso ideal e à condição metabólica do gato. O objetivo é equilibrar proteínas de alta qualidade, baixo teor de carboidratos e uma quantidade de gordura modulada conforme o perfil lipídico.

Formulação da dieta e composição nutricional
Entre os nutrientes que merecem maior atenção na dieta de gatos diabéticos, a proteína se destaca.
“Ela auxilia na manutenção da massa muscular, favorece a saciedade e melhora a sensibilidade à insulina”, detalha Paula.
O ajuste deve levar em conta a condição corporal e, principalmente, a função renal: em pacientes sem comprometimento renal, recomenda-se um teor elevado de proteína — no mínimo 40% da energia metabolizável. Já nos casos em que a doença renal crônica está presente, a recomendação é moderar a oferta, sempre preservando a qualidade biológica da proteína.
Os carboidratos, por sua vez, são considerados os principais moduladores da glicemia pós-prandial. Estudos apontam que dietas com menos de 12% da energia metabolizável proveniente de carboidratos estão associadas a melhores índices de controle glicêmico e até a maiores taxas de remissão da doença.
“O amido é o nutriente que mais altera a curva glicêmica, e tanto a quantidade quanto o tipo de carboidrato são determinantes”, observa a médica-veterinária.
Fontes de baixo índice glicêmico, como certas fibras solúveis, podem ser incluídas, enquanto amidos de rápida digestão devem ser evitados.
Quanto à gordura, o ajuste é feito de acordo com o estado corporal e o perfil lipídico do animal.
O excesso pode predispor à obesidade e a dislipidemias, mas a restrição exagerada compromete a densidade energética da dieta e a palatabilidade.
“O manejo nutricional deve ter como objetivos evitar oscilações bruscas da glicemia, prevenir tanto a hipoglicemia quanto a hiperglicemia, corrigir ou prevenir a obesidade e assegurar um aporte calórico constante”, resume.














