São personagens fofinhos, coloridos e dá-lhe produção maciça em fábricas quase sempre chinesas para distribuí-los pelo mundo como suvenir. As mascotes da Copa do Mundo são um clássico desde o leãozinho Willie de 1966 — outros quinhentos, contudo, é saber se vão colar ou não. A Fifa acaba de anunciar o trio para 2026, e são três porque o torneio será disputado simultaneamente nos Estados Unidos, no México e no Canadá. A figura americana é a águia Clutch. A mexicana é a onça-pintada Zayu. A canadense é o alce Maple. Daqui a alguns meses, quando a bola rolar — ah, a bola, a Trionda, também é nova e também tem desenhos atrelados às três nações, porque assim manda o figurino e o marketing —, teremos ideia do futuro breve da turminha, mas um bom exercício, agora, é uma piscadela para o passado.

A evolução dos personagens traduz o espírito do tempo — e como foram mudando. Tome-se como exemplo o Juanito, da Copa de 1970 no México: era um menino com a camisa da seleção nacional e um imenso sombrero, o tradicional chapelão. Em 1986, quando o torneio voltou ao país de Pancho Villa e Frida Kahlo, inventaram o Pique, uma pimenta de imenso bigode e, claro, o indefectível sombrero. Não podiam ser figuras mais óbvias, atreladas àquele momento, o olhar do rico mundo ocidental europeu para o clichê do clichê. Melhorou, hoje: a onça é símbolo das civilizações antigas — sem fios acima dos lábios e sem levar nada em cima da cabeça. “Ao trocar o estereótipo do sombrero por um animal regional, há um esforço claro de ressignificar a identidade mexicana sob uma ótica mais diversa e moderna, sem caricaturas”, afirma Bruno Brum, CMO da agência End to End, especializada em marketing esportivo. “A mudança mostra que as marcas esportivas globais entendem que toda representação simbólica precisa respeitar a complexidade cultural, evitando simplificações que antes eram vistas como celebração.”

Não faria sentido, realmente, navegar naquela obviedade datada — e trabalhar com animais é sempre mais fácil. Opa, nem sempre. Convém lembrar da confusão provocada pelo Fuleco, o tatu-bola da Copa de 2014, no Brasil, coitadinho, arrastado ao ostracismo. O bicho foi engolido pelos protestos de 2013, ao lado de cartazes como “Não vai ter Copa”. Teve Copa, mas o bichinho foi levado ao banco de reservas e nunca mais apareceu. Para piorar, as entidades de proteção da fauna chiaram, e com alguma razão, porque a Fifa decidiu pô-lo em cena, mas nada de ajuda financeira para a luta contra a extinção da espécie.

Vai dar certo a partir de agora e durante 2026? Só as crianças sabem — porque nem a força da propaganda americana é capaz de salvar tudo. E some-se, enfim, um inesperado movimento político — calhou de os três países envolvidos no torneio estarem às turras, com Donald Trump esbravejando contra México e Canadá, e dá-lhe tarifas em cima de tarifas. Não por acaso, um articulista do site The Athletic deu boa ideia, irônica: e se a águia fosse batizada de Donald?
Publicado em VEJA de 10 de outubro de 2025, edição nº 2965