Morre Jane Goodall, a bióloga que redefiniu a humanidade por meio dos chimpanzés

A renomada cientista Jane Goodall morreu nesta quarta-feira, 1º, aos 91 anos, de causas naturais. De acordo com o Jane Goodall Institute, ela estava na Califórnia como parte de sua turnê de palestras nos Estados Unidos. Suas descobertas não apenas jogaram luz nas complexas relações sociais estabelecidas pelos macacos como ensinaram ao mundo que há menos diferenças entre homens e chimpanzés do que se imaginava. Além disso, ela foi uma defensora incansável da proteção e restauração do nosso mundo natural.

Em entrevista a VEJA, Goodall reconheceu, com tristeza, que a situação do meio ambiente ficou pior. “O desaparecimento de animais resultou na sexta grande extinção (como a ciência se refere ao período atual, marcado pela aniquilação biológica de inúmeras espécies) e as mudanças climáticas causaram danos em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, devido à destruição da Amazônia”, disse ela à repórter Jennifer Ann Thomas. “A tragédia se traduz na pandemia que trouxemos para nós mesmos, marcada pelo desrespeito à natureza e aos animais.”

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A britânica Valerie Jane Morris-Goodall, nascida em 3 de abril de 1934, foi uma primatologista, etóloga e antropóloga. Mundialmente reconhecida como a maior estudiosa de chimpanzés, Jane Goodall não apenas revolucionou a ciência, mas também se tornou uma das mais influentes ativistas em defesa da preservação ecológica.

Impulsionada por seu sonho de infância de conhecer a África, Goodall viajou para o Quênia em 1960. Lá, ela foi contratada como secretária pelo famoso paleoantropólogo Louis Leakey, que a enviou para o Parque Nacional de Gombe Stream, na Tanzânia, em 14 de julho de 1960. Inicialmente, seu objetivo era simplesmente viver no meio de animais selvagens.

Goodall, que começou a pesquisa sem formação universitária, utilizou a técnica de observação diária e, de forma não convencional para a época, atribuiu nomes aos chimpanzés em vez de números, o que a ajudou a desenvolver um laço próximo e a reconhecer a individualidade de cada um.

Suas descobertas em Gombe abalaram o conhecimento humano. Ela provou que os chimpanzés são capazes de fabricar e usar ferramentas, como modificar hastes para “pescar” cupins. Esta revelação levou Leakey a declarar: “Teremos agora que redefinir ‘instrumento’, redefinir ‘humanidade’ ou aceitar os chimpanzés como humanos”.

Personalidades

Goodall também documentou que os chimpanzés possuem personalidades, laços familiares complexos, e emoções como alegria e tristeza. Contudo, ela também revelou seu “lado obscuro”, observando caça e brutalidade, incluindo a Guerra de Gombe, um comportamento que a fez perceber que eles, “como a gente, tem um lado obscuro de sua natureza”.

Após obter seu PhD em etologia pela Universidade de Cambridge em 1965, Goodall deixou a vida de campo em tempo integral para se dedicar ao ativismo ambiental. Ela fundou o Jane Goodall Institute em 1977 e o programa Roots & Shoots para capacitar jovens como agentes de mudança. Goodall adverte que a destruição da natureza e a perda de habitat estão por trás de crises de saúde global, como a pandemia, e que o desrespeito ao meio ambiente levou à “sexta grande extinção”.

Nomeada Mensageira da Paz das Nações Unidas em 2002, Goodall foi uma defensora incansável, acreditando que a mudança de padrões comportamentais e uma nova economia verde seriam cruciais para o futuro do planeta. Ela sempre manteve um tom otimista, afirmando que “nunca é tarde demais” para mudar o mundo.

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