O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quarta-feira, 3, que a guerra na Ucrânia pode ser encerrada por negociações “se o bom senso prevalecer”, mas que estava disposto a “resolver todas as tarefas” através da “força das armas”. Em Pequim, onde participou de um pomposo desfile militar chinês que marcou o 80º aniversário da rendição formal dos japoneses no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o líder russo afirmou que há “uma certa luz no fim do túnel” pela influência dos Estados Unidos nas tratativas.
“Parece-me que, se o bom senso prevalecer, será possível chegar a um acordo sobre uma solução aceitável para pôr fim a este conflito. Essa é a minha suposição”, opinou Putin a repórteres. “Principalmente porque podemos ver o humor do atual governo americano sob o presidente (Donald) Trump, e vemos não apenas suas declarações, mas seu desejo sincero de encontrar essa solução.”
“E acho que há uma certa luz no fim do túnel. Vamos ver como a situação evolui”, continuou, mas logo retomou ao costumeiro tom de ameaça: “Se não, teremos que resolver todas as tarefas que temos pela força das armas.”
+ Microfone transmite conversa de Xi e Putin sobre transplante de órgãos e imortalidade
Negociações estagnadas
A declaração ocorre em meio às tentativas de que seja realizada uma reunião entre Putin e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, com mediação de Trump. Mas, no final de agosto, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que ainda não havia agenda definida para o encontro — uma sinalização de que talvez as negociações ainda demorem para sair do papel.
“Putin está pronto para se reunir com Zelenskiy quando a agenda estiver pronta para uma cúpula. E essa agenda não está pronta de jeito nenhum”, afirmou ele à NBC, confirmando que ainda não havia data ou local previstos para a cúpula.
Na ocasião, Lavrov alegou que o governo russo demonstrou flexibilidade em questões apresentadas por Trump na bilateral há duas semanas no Alasca, que terminou sem avanços concretos. O ministro acusou Kiev e os seus aliados europeus de serem intransigentes nas suas próprias demandas — Ucrânia e Europa exigem garantias de segurança apoiadas pelos EUA e não aceitam qualquer concessão territorial à Rússia.
“Ele (Trump) indicou claramente — ficou muito claro para todos — que há vários princípios que Washington acredita que devem ser aceitos, incluindo a não adesão da Ucrânia à Otan, incluindo a discussão de questões territoriais, e Zelenskiy disse não a tudo”, continuou. “Ele até disse não, como eu disse, ao cancelamento da legislação que proíbe o uso da língua russa. Como podemos nos encontrar com alguém que finge ser um líder?”
Frente às críticas, Zelensky afirmou que “os russos estão fazendo tudo o que podem para impedir que a reunião aconteça”, acrescentando: “Ao contrário da Rússia, a Ucrânia não tem medo de nenhum encontro com líderes”. Ele voltou a apelar por garantias de segurança e opinou que elas deveriam seguir a lógica do Artigo 5 da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que considera um ataque a um membro da aliança militar ocidental como um ataque contra todos.
Nem Moscou, nem Kiev parecem dispostos a flexibilizar as reivindicações. A Rússia exige que a Ucrânia ceda 20% do seu território, incluindo as regiões de Luhansk e Donetsk, abandone a pretensão de aderir à Otan, principal aliança militar ocidental. Além disso, Putin quer que a Ucrânia se desmilitarize, uma ideia rejeitada por Zelensky, que insiste em “um forte exército ucraniano” como uma exigência imutável. Ele também nega abrir mão de parte do país e defende o princípio da soberania, apoiado por uma série de países da Europa.