O Produto Interno Bruto (PIB) da indústria brasileira cresceu 0,5% no segundo trimestre, segundo dados do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta terça-feira, 2. O dado geral, no entanto, esconde disparidades entre diferentes ramos de atuação do parque industrial. A indústria extrativa, menos dependente do mercado interno, acelerou 5,4%, carregando as atividades que dependem mais da conjuntura macroeconômica do Brasil. A indústria de transformação encolheu 0,5% no acumulado dos três meses terminados em junho, enquanto a construção civil perdeu 0,2% do seu tamanho no mesmo período. “Isso mostra que hoje temos duas indústrias andando em velocidades diferentes”, diz Rafael Perez, economista da Suno Research.
O crescimento de 0,5% da indústria como um todo surpreendeu parte do mercado, que esperava um desempenho mais modesto do setor. A indústria de transformação, que representa cerca de 80% do setor, segundo analistas, anda de lado — tendo que carregar uma taxa básica de juros de 15% ao ano. O mesmo vale para a construção civil. “São atividades que dependem mais do ciclo econômico doméstico, das condições internas do país”, diz o economista da Suno. A casa de análise avalia que a desaceleração da indústria de transformação e a disparidade em relação às empresas extrativas vão continuar na segunda metade do ano.
A alta significativa da indústria extrativa (5,4%) foi puxada pela produção de petróleo, gás e minério de ferro, segundo análise da MA7 Negócios, gestora especializada em ativos de special situations. “Essa combinação revela uma indústria muito dependente de commodities, enquanto os segmentos ligados ao consumo interno e ao investimento ainda sofrem com os juros em 15% e o crédito caro”, diz André Matos, CEO da gestora. O lado positivo é que o setor extrativo garante entrada de divisas internacionais e estabilidade para a balança comercial. A Petrobras é destacada como a empresa que mais contribuiu para os bons números da indústria extrativa no segundo trimestre. “O ciclo de superprodução da estatal, com a adição de quatro unidades de produção, trouxe comportamento atípico da categoria no trimestre”, diz José Alfaix, economista da gestora Rio Bravo Investimentos.
A Rio Bravo avalia que o desempenho da indústria, por mais que ainda esteja no campo positivo, indica uma desaceleração incipiente do setor em meio à alta da taxa Selic. “Os dados sugerem uma tendência de acomodação do crescimento da indústria”, diz André Valério, economista sênior do banco Inter. A expectativa da instituição financeira é que a indústria mantenha essa tendência ao longo do ano, com um “leve viés de piora”. A incerteza que ainda paira no ar é o impacto das tarifas americanas no setor. Boa parte dos produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos que não foram isentos da tarifa de 50% vem da indústria de transformação, de modo que ela pode desacelerar mais que o esperado no segundo semestre de 2025.