O dilema do mercado: apostar na demissão de Cook por Trump ou no corte de juros pelo Fed

Os investidores enfrentam um dilema deste ontem, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou pelas redes sociais que demitirá Lisa Cook, uma das diretoras do Federal Reserve, por alegadas fraudes cometidas no mercado hipotecário. O anúncio é visto pelo mercado como mais uma tentativa do republicano de minar a autonomia do banco central americano, após as pesadas críticas ao presidente do Fed, Jerome Powell. A dúvida agora é se os investidores apostam na força de Trump para demitir Cook e ampliar sua influência na política monetária, ou se jogam suas fichas no espero corte de juros que o Fed deve executar em setembro.

O comportamento do mercado nesta terça-feira, 26, fornece elementos para os dois lados. No mercado de renda fixa, os Treasuries, títulos da dívida pública americana, exibem uma abertura das curvas dos papéis de curto prazo e dos de longo prazo. O yield (taxa de retorno) dos papéis que vencerão em dois anos abriram o dia com queda de 0,04 ponto percentual para 3,69% ao ano. Já o yield do Treasuries com vencimento em trinta anos subia 0,06 ponto para 4,92%. Segundo o jornal britânico Financial Times, a diferença de 1,25 ponto percentual entre as duas taxas é a mais alta dos últimos três anos.

A mensagem embutida nesses números é que os investidores até admitem que a pressão de Trump sobre Fed pode derrubar a taxa básica de juros do país, os Fed Funds, como deseja a Casa Branca. Mas, diante de uma economia ainda aquecida e com as incertezas quanto aos impactos do tarifaço imposto por Trump a praticamente todos os países sobre a inflação, um corte prematuro e mais acentuado que o recomendado, apenas para agradar ao republicano, levará a um efeito bumerangue: a inflação pode acelerar e uma dose maior de juros será necessária para contê-la no futuro. É isso o que justifica os títulos de trinta anos pagarem juros maiores neste momento que os de curto prazo.

Já o mercado acionário parece apostar apenas no esperado corte de juros em setembro. Por isso, os principais índices das bolsas americanas operam em leve alta nesta terça. Por volta das 14h40 (horário de Brasília), o Dow Jones registrava estabilidade nos 45 280 pontos. Já o S&P 500 subia 0,10% para os 6 445 pontos, e a Nasdaq avançava 0,18% até os 21 487 postos.

Segundo a rede americana CNBC, as bolsas americanas também reagem às declarações dadas por Trump ontem de que planeja uma nova rodada de “tarifas substanciais” às importações, bem como sobre a exportação de chips para países que discriminarem as big techs americanas de algum modos – seja cobrando-lhes impostos ou impondo restrições legais.

No Brasil, o Ibovespa opera em queda, pressionado pela avaliação de que a queda do IPCA-15 – a primeira registrada neste ano – não é necessariamente uma boa notícia. Por volta das 14h40, o Ibovespa, principal índice da B3, recuava 0,59% para os 137 204 pontos.

Para os analistas, a prévia da inflação de agosto divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística embute algumas más notícias. A primeira é que a queda é menor que a esperada. Segundo relatório enviado a clientes pelo Itaú BBA e assinado pela economista Luciana Rabelo, a deflação de 0,14% do IPCA-15 foi menor que a estimativa do banco (-0,25%) e da mediana do mercado (-0,20%).

O Itaú BBA destaca “surpresas altistas” em itens de serviços, como energia elétrica residencial, alimentação fora do domicílio, higiene pessoal e cursos regulares. Rabelo observa que o resultado interrompe “a tendência de queda das últimas divulgações e reforçando o impacto altista do mercado de trabalho apertado sobre a inflação”. Apesar disso, o banco manteve seu cenário-base para a inflação: uma alta de 5,1%, com os serviços subjacentes encarecendo 7%.

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