O que significa a demissão da diretora do Fed anunciada por Trump?

A demissão de Lisa Cook do Federal Reserve (Fed), anunciada pelo presidente Donald Trump, representa uma escalada inédita na pressão de um chefe de governo sobre o banco central dos Estados Unidos. Especialistas financeiros e constitucionais alertam que a manobra pode gerar um impasse legal e minar a confiança dos mercados na autoridade monetária americana.

Cook, indicada em 2022 pelo então presidente Joe Biden, tornou-se a primeira mulher negra a integrar o Conselho de Governadores do Fed. Ela ocupa uma posição central no Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), o órgão de 12 membros responsável por definir a política de juros do país. Sua permanência, segundo advogados, não pode ser arbitrariamente interrompida sem justa causa legalmente reconhecida, uma condição que Trump alega ter sido atendida ao citar supostas irregularidades em contratos imobiliários pessoais de Cook.

Em resposta, a diretora afirmou que “não há motivo legal” para sua remoção e garantiu que permanecerá no cargo, prometendo usar todos os recursos legais para contestar a decisão. “Não vou renunciar. Continuarei a cumprir meus deveres para ajudar a economia americana, como venho fazendo desde 2022”, declarou.

A medida de Trump reflete frustração com a política monetária do Fed, especialmente a resistência de Jerome Powell, presidente do órgão, a cortes nas taxas de juros. Durante meses, Trump pressionou o Fed a reduzir os juros para estimular o crescimento econômico. Powell, entretanto, que também foi alvo de ataques de Trump, não cedeu às pressões políticas e manteve-se firme em sua decisão de “esperar por mais dados”, observando os indicadores macroeconômicos para decidir sobre o momento certo de afrouxar os juros.

A tentativa de afastar Cook, embora juridicamente contestável, carrega implicações profundas. Se efetivada, permitiria a Trump consolidar uma maioria de indicados aliados no conselho do Fed, ampliando sua influência sobre a política monetária, tradicionalmente conduzida de forma técnica e independente desde 1951. Especialistas alertam que tal intervenção poderia corroer décadas de autonomia do banco central, um pilar essencial da credibilidade dos Estados Unidos perante investidores e agências de classificação de risco.

Interferências do Executivo são raras e, historicamente, vistas com desconfiança pelos investidores. Analistas lembram que qualquer tentativa de remover diretores sem base legal sólida poderia resultar em batalhas judiciais complexas, testando os limites constitucionais entre Executivo e instituições financeiras.

Além disso, a percepção de ingerência política no Fed poderia aumentar a aversão ao risco, elevar a volatilidade do dólar e influenciar taxas de juros globais.

O Fed observa, em silêncio institucional, o que pode se tornar um dos episódios mais tensos na história recente do banco central americano. A estabilidade do sistema financeiro e a percepção de independência do Fed estão agora em jogo.

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