Alckmin e Tebet vão ao México para estreitar laços com a vizinhança em meio ao tarifaço

Na Cidade do México, dois ministros brasileiros desembarcam com uma promessa difícil de cumprir: transformar a relação econômica entre as duas economias latino-americanas em algo mais substancial do que hoje sugere a tímida corrente de comércio.

Apesar de dividirem uma região que responde por 60% do PIB latino-americano e concentra mais de 320 milhões de consumidores, Brasil e México nunca conseguiram destravar plenamente seu comércio bilateral. O México aparece apenas como o 7º destino das exportações brasileiras, e o Brasil figura como o 5º para os mexicanos, mas respondendo por menos de 1% de suas vendas externas. Essa subutilização tem razões políticas e econômicas. Por décadas, os dois países competiram pela liderança regional e optaram por estratégias comerciais distintas: o México aprofundou sua integração com os EUA por meio do Nafta (e agora do USMCA), enquanto o Brasil se ancorou no Mercosul, de perfil mais fechado. Agora, contudo, a conjuntura abre uma janela rara de convergência.

O chamado “tarifaço” de Trump pode acelerar essa mudança. A sobretaxa de 25% sobre produtos mexicanos, especialmente da indústria automotiva, a espinha dorsal das exportações do país, representa um choque significativo. Se o choque tarifário já é preocupante para qualquer economia, para o México ele soa quase existencial: 84% de suas exportações vão para os EUA. O Brasil, por outro lado, envia 12% de suas vendas externas para o mercado americano. Um número significativo, mas longe da dependência estrutural mexicana.

O vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro da Indústria e do Desenvolvimento, e Simone Tebet, do Planejamento, chegam para convencer o México de que o Brasil pode ser mais do que um parceiro ocasional e, talvez, até uma alternativa à excessiva dependência mexicana dos Estados Unidos.

Os ministros brasileiros enxergam oportunidade no “Plan México”, programa de desenvolvimento lançado em janeiro pela presidente Claudia Sheinbaum, sucessora de Andrés Manuel López Obrador.  O projeto busca reduzir a dependência externa do México, em especial dos EUA.

É justamente nesse ponto que a visita de Alckmin e Tebet ganha sentido. Ao se aproximar do plano, o Brasil tenta se apresentar não apenas como fornecedor de commodities, mas como parceiro capaz de contribuir em áreas estratégicas. Startups brasileiras podem atender à demanda mexicana por digitalização e automação; construtoras e empresas de engenharia enxergam espaço nos projetos de infraestrutura ligados à Copa de 2026; e produtores de alimentos e bens de consumo encontram um mercado em expansão, favorecido pela política de isenção de tarifas sobre itens da cesta básica.

O entusiasmo, porém, exige reciprocidade. O México quer escoar produtos que antes fluíam sem restrições para os EUA, sobretudo automóveis e autopeças, seu carro-chefe exportador. Convencer o Brasil a abrir seu mercado nesse segmento seria visto como gesto de boa-fé. Mas aqui reside o dilema: a indústria automobilística brasileira, historicamente protegida por tarifas e políticas de incentivo, resiste a maior competição. A oportunidade, portanto, só se materializará se Brasília e a Cidade do México aceitarem ceder em áreas sensíveis.

Enquanto os EUA recorrem a tarifas e a China disputa influência na região, México e Brasil podem redescobrir um ao outro. Resta saber se desta vez haverá vontade política para transformar números modestos em uma parceria estratégica.

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