CRÔNICA: Quando Peckinpah falou comigo

Por: Ramon Barbosa Franco

30/06/2025

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por Ramon Barbosa Franco

14 de janeiro de 2022. Esta foi a data em que o diretor de cinema Samuel David Peckinpah, o Sam Peckinpah, falou comigo.

Na verdade, Sam me corrigiu de forma muito elegante, bem inteligente e educada, até. O leitor pode – e deve – perguntar: ué, como um diretor de cinema que morreu em 28 de dezembro de 1984, na Califórnia, Estados Unidos, conversou com um jornalista que vive no interior de São Paulo, aqui no Brasil?

Pois é. Isso aconteceu: primeiro, de uma forma virtual e, segundo, de modo terceirizado. A página oficial do diretor de ‘Meu Ódio Será Sua Herança’ e ‘Pat Garrett & Billy The Kid’ no Facebook dialogou comigo numa postagem.

Para um fã de cinema e do traço narrativo de Peckinpah, ser lido e respondido no ambiente que cultiva e preserva a memória deste gênio da 7ª arte significa muito, tanto que passei a dizer que 14 de janeiro de 2022 foi o dia, mês e ano em que o diretor de ‘Os Implacáveis’, de certa maneira, soube da existência deste amante dos das telonas.

Eu havia escrito na postagem que, numa linha do tempo dos principais e melhores diretores de faroeste do cinema norte-americano, era necessário incluir John Ford, Sergio Leone – que era italiano, mas inovou as narrativas do velho oeste –, Sam Peckinpah e Clint Eastwood. Clint, que no dia 31 de maio completou 95 anos, ainda mantém fôlego e disposição para dirigir, mesmo lá nos idos de 2022 e agora, em 2025.

O bom e velho Clint pode nos surpreender com um novo western. ‘Cry Macho’, por exemplo, havia sido lançado por Eastwood no ano anterior, em 2021, e este longa de fronteira é um bom faroeste contemporâneo.

Não demorou nada; assim que a minha postagem – feita em inglês – foi para o ar, os administradores da página oficial de Peckinpah responderam: ‘Howard Hawks também está em algum lugar dessa lista’.

Por pura ignorância, não me ative ao diretor de dois dos melhores filmes estrelados por John Wayne: ‘Rio Vermelho’ e ‘Onde Começa o Inferno’.

Além disso, o próprio Clint Eastwood havia se inspirado na vida de Howard Hawks para estrelar e dirigir ‘Coração de Caçador’, de 1990.Sam Peckinpah, que dirigiu Steve McQueen e Ali MacGraw em ‘Os Implacáveis’, de 1972, e Kris Kristofferson em ‘Pat Garrett & Billy The Kid’, de 1973, e em ‘Comboio’, de 1978, cursou teatro e se formou em Drama pela University of Southern Califórnia em 1949, dirigindo filmes de 1961 a 1983, ano anterior de sua morte.

Em ‘Comboio’, assim como Alfred Hitchcock fazia, Sam aparece em cena como um repórter cinematográfico que integra a equipe que faz a entrevista com o caminhoneiro que lidera a rebelião motorizada na infinita highway.

Nos cinco últimos anos de sua vida, de 1979 a 1984, conforme documentou sua filha, Lupita Peckinpah, o cineasta optou pela reclusão. Ele se hospedou no Murray Hotel, em Livingston, em Montana, EUA, e preferiu a distância.

Para muitos, dois dos maiores faroestes já produzidos em todos os tempos trazem a assinatura de Sam: ‘Meu Ódio Será Sua Herança’ e ‘Pat Garrett & Billy The Kid’.

Embora haja um hiato de 4 anos entre ‘Meu Ódio…’ e ‘Pat Garrett…’ – um produzido em 1969 e outro em 1973 –, estes longas sintetizam os dois lados da narrativa americana. ‘Pat Garrett…’ preserva um certo glamour do tempo das diligências, enaltece um herói-vilão, o Billy The Kid. ‘Meu Ódio…’ escancara toda a violência da sociedade: a mesma que fez surgir Billy.

‘Peckinpah Suite’, o documentário de Lupita, por sua vez, nos mostra Sam, que vai continuar conversando com a gente por bom tempo ainda.

Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor dos livros ‘Canavial, os vivos e os mortos’, ‘A próxima Colombina’, ‘Contos do Japim’, ‘Vargas, um legado político’, ‘Laurinda Frade, receitas da Vida’, ‘Quatro patas, a história de Pituco’, ‘Nhô Pai, poeta de Beijinho Doce’, ‘Dias de pães ázimos’ e das HQs ‘Radius’, ‘Os canônicos’ e ‘Onde nasce a luz’, ramonimprensa@gmail.com

‘Quando Peckinpah falou comigo’

Em um cruzamento inusitado entre passado e presente digital, na crônica ‘Quando Peckinpah falou comigo’, o jornalista e escritor Ramon Barbosa Franco relata a experiência de ser “corrigido” por um dos maiores diretores de faroeste da história, o lendário Sam Peckinpah, décadas após sua morte.

A inusitada interação em rede social abre espaço para uma reflexão profunda sobre o legado, a arte e a atemporalidade dos gênios do cinema. Um texto que celebra a paixão pela sétima arte e prova que as grandes histórias nunca morrem.

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