por Ramon Barbosa Franco
Até hoje o principal herói de quadrinhos para mim é um ranger do velho oeste, que apareceu pela primeira vez numa banca de revistas em 1948 fruto da criação do roteirista Gian Luigi Bonelli.
Até o ano de sua morte, em 2001, Bonelli escreveu as aventuras de Tex Willer, o cowboy que enfrenta os vilões da época das diligências das pradarias selvagens e dos vapores que cruzavam o rio Mississipi. Com fôlego idêntico, outro roteirista de peso das histórias em quadrinhos se manteve fiel ao seu personagem: Lee Falk.
Leon Harrison Gross, o Lee Falk, iniciou sua trajetória de criador de HQs com Mandrake, contudo o personagem que lhe deu maior notoriedade e reconhecimento mundial foi Fantasma. Desde 1936 até março de 1999, quando Falk morreu, o roteirista criou as histórias do herói mascarado que combate o crime, a ganância e a pirataria na emblemática selva de Bangalla.
É quase certo que tenha tirado sua máscara – não como a do herói, mas de oxigênio que o mantinha vivo no leito hospitalar – para ditar à esposa as últimas histórias de sua autoria do espírito que anda. Falk se foi, mas Fantasma não. E segue tendo ao seu lado o fiel Capeto, um lobo domesticado. Em cada latido, um chamado à bravura. Em cada olhar, a lealdade que aquece a alma.
Para seus donos, cada cão é um herói, um farol de fidelidade em meio à escuridão da vida. Mas a heroicidade canina transcende o afeto doméstico, ecoando em feitos que moldam a história e salvam vidas.
Nas ruínas de tragédias, cães farejadores vasculham os escombros, seus latidos guiando equipes de resgate rumo à esperança. No combate ao tráfico, são perspicazes e detectam o perigo oculto, protegendo comunidades inteiras. E quando tombam em combate ou se despedem após anos de serviço, são honrados como heróis, com funerais que reverenciam sua bravura.
A história de Balto, o husky siberiano que liderou um trenó carregado de medicamentos para uma aldeia isolada no Alasca, é uma narrativa real de bravura. Em meio à nevasca e ao frio implacável, Balto guiou sua matilha, superando obstáculos intransponíveis para salvar vidas.
Nas expedições ao Ártico, cães são companheiros indispensáveis até os dias de hoje. Com resistência e instinto guiam exploradores em terras inóspitas.
Em “O Chamado da Selva”, Jack London imortalizou a saga de Buck, um cão que, em meio à selvageria, preserva sua ética, salvando sua matilha da crueldade humana e da crueldade de outros cães.
Em cada lar, em cada missão, em cada livro, os cães nos lembram que a bravura não reside no tamanho ou na força, mas na lealdade inabalável e no amor incondicional. Eles são heróis de quatro patas, companheiros fiéis que nos inspiram a sermos melhores, a enfrentarmos os desafios da vida com coragem e compaixão.
Na vastidão da fictícia selva de Bangalla, onde o sol se esconde entre as copas das árvores e o sussurro do vento carrega lendas ancestrais, habita um ser lendário, um companheiro leal do Espírito que Anda: o lobo Capeto. Capeto não é apenas um animal, mas um símbolo da conexão profunda entre o Fantasma e a natureza.
Sua pelagem negra como a noite se mistura com as sombras da floresta, e seus olhos penetrantes refletem a sabedoria acumulada ao longo de gerações.
Capeto é o companheiro inseparável do Fantasma, um guardião silencioso que o acompanha em suas missões pela selva.
Sua lealdade é inabalável, e sua presença é um lembrete constante da força da natureza e da importância de proteger o mundo natural.
Tive a recente experiência de escrever sobre um herói muito semelhante, que, também se tornou personagem de histórias em quadrinhos, o Pituco.
Escrevi algo bem semelhante a Fantasma e Capeto. Em Radius, a franquia mariliense de HQs, Pituco ganhou vida como um símbolo de coragem e lealdade em um futuro distópico, reforçando a importância desses valores mesmo em um mundo marcado por desafios extremos.
‘Quatro patas – a história de Pituco’, o livro infantojuvenil que escrevi em parceria com Tiago de Moraes das Chagas, consistiu num mergulho à fidelidade de um cachorro, fiel à sua própria natureza e aos seus valores, que independem das espécies. Entre estes valores, como não poderia ser diferente, está o amor.
Às vezes o amor é nos ensinado pelos pequenos gestos, seja de pessoas, ou de cães, que são fiéis ao seu amor até o fim.
Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor dos livros ‘Canavial, os vivos e os mortos’, ‘A próxima Colombina’, ‘Contos do Japim’, ‘Vargas, um legado político’, ‘Laurinda Frade, receitas da Vida’, ‘Quatro patas, a história de Pituco’, ‘Nhô Pai, poeta de Beijinho Doce’, ‘Dias de pães ázimos’ e das HQs ‘Radius’, ‘Os canônicos’ e ‘Onde nasce a luz’, ramonimprensa@gmail.com