O g1 conversou com Alan Mosca, filho do jauense, que herdou o ofício do pai e hoje mantém ativa a Sid Special Paint, na capital paulista.
O icônico capacete amarelo, com linhas verdes e azuis que direcionam o olhar para o piloto foi o design criado por Sid Mosca para o então jovem corredor de kart Ayrton Senna, que, mais tarde, se tornaria tricampeão mundial de Fórmula 1.
Cloacyr Sidney Mosca, mais conhecido como Sid Mosca, nasceu em Jaú, no interior de São Paulo, em 4 de abril de 1937, mas, com pouco mais de quatro anos, se mudou para São Paulo (SP) com seus pais, avós e tios, em busca de novas oportunidades.
Filho único, Sid cresceu no bairro de Santo Amaro, onde, desde cedo, se envolveu com mecânica e pintura de carros, por influência de um primo, que ensinou o ofício para ele.
Alan Mosca, filho de Sid, contou, em entrevista ao g1, que, na região, funcionavam várias oficinas que prestavam serviços para pilotos que corriam no Autódromo de Interlagos.
“Meu pai cresceu ali e, com uns 13, 14 anos, foi trabalhar em uma oficina no bairro para aprender pintura. Um primo nosso já era pintor, então ele começou ali. Naquela época, mesmo estando perto de Interlagos, parecia longe, porque, para chegar lá, era uma estradinha pequena. Mas as oficinas de preparação de carros de corrida e as equipes eram aqui no bairro, então todo mundo se conhecia”, contou.
Mais tarde, Sid chegou a se juntar a alguns colegas de profissão para montar um carro e participar de corridas mais amadoras, mas a carreira como piloto não foi de sucesso.
Sid tentou também vender carros, porém, o negócio não foi para a frente. Foi quando o jauense começou a pintar capacetes.
“Meu pai montou a loja do lado de uma equipe importante, do Gilberto Magalhães, que era conhecido e preparava vários carros. E foi aí que ele começou a pintar capacetes. O negócio cresceu tanto que ele teve que alugar uma outra loja só para fazer pintura. A gente acabou fechando a loja de carros e ficou só com isso. Eu também acabei virando pintor. Comecei para valer na pintura lá por 75, 76”, lembra Alan Mosca, que começou a trabalhar com o pai nessa época.
Aos poucos, o visual das pinturas feitas por Sid começou a chamar a atenção de corredores de grandes equipes. Foi quando ele fundou oficialmente a Sid Special Paint, uma oficina referência na customização de veículos e de capacetes.
Alan conta que a marca virou uma grife de capacetes, que eram assinados por Sid, por recomendação de Emerson Fittipaldi, que se encantou com as criações.
“O Emerson veio atrás e, daí, foi uma coisa atrás da outra. Meu pai, em poucos anos, já estava pintando capacete de campeão mundial de Fórmula 1. O Emerson sugeriu que colocasse uma assinatura no capacete, e isso foi algo que marcou. Meu pai era pioneiro nisso, né, porque não tinha ninguém fazendo esse tipo de trabalho no Brasil”, contou ao g1.
Ao longo de sua carreira, Sid foi responsável pela criação de capacetes para grandes nomes do automobilismo, como Emerson Fittipaldi, Rubens Barrichello, Felipe Massa, Nelson Piquet, Ingo Hoffmann, Eddie Cheever, Teo Fabi, Stephan Johansonn e, claro, Ayrton Senna.
O capacete de Ayrton Senna
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Alan Mosca se lembra do dia em que, quando ainda kartista, Ayrton Senna foi até o estúdio do seu pai para pedir um modelo de capacete. Na época, Alan tinha 17 anos e Ayrton 15.
“O Ayrton, a gente já conhecia ele da pista. Um dia, ele apareceu na oficina, procurando meu pai. Eu falei: ‘pai, vem aqui, o 42 está aqui’. Era como a gente chamava ele. Meu pai desceu, eles conversaram e logo pintaram o primeiro capacete dele. Era branco e azul. Depois, veio o tradicional verde, amarelo e azul”, lembra.
“A pintura era simples, traços claros. Meu pai dizia que foi o Ayrton que tornou a pintura icônica, não o contrário. Ele era quem fazia as coisas ganharem vida”, disse Alan.
A perda de Ayrton
Ayrton Senna morreu aos 34 anos, no dia 1º de maio de 1994, no Grande Prêmio de San Marino da Fórmula 1. O ídolo e tricampeão mundial estava no auge da carreira quando a barra de direção de seu carro quebrou e o veículo foi direto para a barreira de uma curva.
Alan e seu pai tinham contato direto com o piloto e contaram que a notícia foi um abalo muito grande, não apenas pelos feitos de Senna representando o Brasil, mas também pela pessoa que ele era.
“Ele tratava todo mundo bem, nunca dava as costas para ninguém. Para a gente, foi uma perda enorme. Eu sempre digo que talvez o capacete do Ayrton não tenha sido o mais bonito que fizemos, mas com certeza foi o mais importante. Meu pai tinha muito orgulho disso, e eu também”, finaliza Mosca.
Matéria: g1 Bauru