Lembro que um amigo me contou que o dia mais triste da vida dele foi o primeiro dia em que ele voltou do trabalho para o apartamento vazio que ele tinha alugado depois de se separar da esposa. Ele abriu a porta estranha do apartamento, olhos para os móveis estranhos, sentiu uma frieza estranha. Era a primeira noite que ele dormiria sem os filhos. Aquele silêncio era insuportável. O apartamento tinha quartos para as crianças, mas as crianças não estavam lá. Naquele dia, ele se ajoelhou no chão e soluçou chorando. O fracasso de um casamento. A distância dos filhos. A solidão insuportável.
A tristeza é uma professora severa, mas justíssima. Depois que perdemos, passamos a amar. Amamos o trabalho depois da demissão, o casamento depois do divórcio, os pais depois de um enterro, a vida depois de um acidente. As brincadeiras das crianças, que antes eram irritantes, tornam-se urgentes depois de uma separação. O barulho dos filhos torna-se música. O filho gritando “pai!” vira declaração de amor.
O adulto que brinca com a criança brinca, na verdade, com ele mesmo.
Uma das coisas mais maravilhosas de ter filhos é que em uma quarta-feira à noite qualquer, você vai estar fazendo uma cabana de lençóis na mesa da sala. Ou vai estar fantasiado de super-herói, com um cobertor amarrado no pescoço. Ou vai estar patinando com meias escorregadias no corredor. Ou dançando na sala ao som de Kelly Key. Ou construindo a torre mais alta do mundo com Lego. Como podem eventos tão sem propósito darem todo sentido pra vida?
Todo adulto é uma criança que sobreviveu. Depois de cada queda um coração ralado. A necessidade de um colo, alguém que diga que não foi nada. Alguém que nos passe mercúrio no corte e sopre com carinho.
Pronto, estamos prontos pra próxima.
A vida é incrível.
Desejo a você muito mais do que sorte.
Marcos Piangers