Utilizando o cacau plantado na região, elas estão produzindo chocolate de qualidade para aumentar a renda familiar
O cultivo do cacau que avança pelo estado de São Paulo e já tem presença nas regiões do Vale do Ribeira e no Noroeste Paulista, em especial em São José do Rio Preto, começa a mudar a realidade da economia local e garantir a Páscoa dos produtores. Os frutos estão sendo utilizados por mulheres que participaram do Projeto Novo Olhar, do Senar-SP, para a fabricação de chocolates que farão a alegria de crianças e adultos, assim como a complementação da renda familiar. Nesta quarta-feira (26), Dia do Cacau, produtores e especialistas afirmaram que há um caminho promissor para as lavouras paulistas.
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Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, foram produzidos em 2024 um total de 20,75 toneladas de cacau nas duas regiões produtoras paulistas. Isso representou um aumento de 4,59% em relação ao ano anterior. Em 2024 havia 22,2 mil pés em produção, com crescimento de 23,3% em relação ao ano anterior. Já em 2025, até o momento, são 34,3 mil novos pés (aumento de 37,83%).

A produtora Mônica Munhoz, de Catanduva, que tem sua plantação em Palmares Paulista, está animada com a qualidade do cacau produzido em São Paulo. Para garantir o vigor do cacaueiro, que precisa de sombra, ela plantou bananeira e a Corymbia tolleriana, uma espécie de eucalipto, que ajuda a barrar o vento, no entorno. Com isso, após três anos, começa agora a colher as primeiras frutas, já que em 2021, por conta de geada, acabou perdendo os primeiros cachos que surgiram.

“Somos todos pequenos produtores, em sua maioria que já trabalhavam com fruticultura, e decidiram diversificar suas lavouras. Eu planto cana e seringueira e estou muito feliz com a decisão de investir em cacau. São áreas pequenas, a gente ainda não se arrisca a plantar em larga escala. Essa será a minha primeira colheita real, onde vou poder analisar minhas amêndoas e ver qual a qualidade do chocolate”, frisou Mônica Munhoz.
Sobre os desafios, Mônica lembra que os pioneiros sempre desbravam os caminhos, sem certezas e mão de obra qualificada, e precisam encontram as soluções necessárias para que os outros possam plantar com mais tranquilidade e conseguir antever seus lucros. Com o envelhecimento das lavouras da África, que respondem por 70% de da produção mundial, e o alto preço da fruta no mercado internacional, a expectativa é criar as condições necessárias para se consolidar como opção aos compradores.
O engenheiro agrônomo Andrey Vetorelli Borges, instrutor do Senar-SP, lembrou que há 10 anos o governo estadual decidiu investir nessa cultura e foram chegando demanda dos produtores por cursos de plantio, manejo e colheita. Já foram capacitadas mais de 50 turmas, mostrando o interesse na ampliação do cacau, que agrega valor, preserva o meio ambiente e garante boa rentabilidade.
“O cacau saiu das áreas tradicionais e começou a ser plantado em outros estados. Aqui, em São Paulo, no Vale da Ribeira ele desenvolveu-se normalmente, enquanto no Noroeste Paulista ela funciona com irrigação. Nosso estado está se fortalecendo, tanto na base de pesquisas, extensão e capacitação, buscando o que há de mais novo para transmitir aos produtores e acredito que, a curto e médio prazo, ajudaremos o Brasil a ser autossuficiente na produção de cacau”, explicou Borges.
O presidente do Sindicato Rural de São José do Rio Preto, Sérgio Antonio Expressão, vê o crescimento do cacau na região de como uma oportunidade valiosa para fortalecer a economia local, melhorar a qualidade de vida dos produtores e promover práticas agrícolas sustentáveis.
“Outro aspecto importante é o impacto social. O fortalecimento da cultura do cacau pode gerar mais empregos nas comunidades rurais, tanto diretamente na colheita e processamento quanto em setores relacionados, transporte e comercialização”, disse o presidente do sindicato.
Um Novo Olhar
Os produtores do bairro de Airuoca, no município de Mendonça, entenderam que, mais que plantar cacau, era importante mostrar como a cadeia produtiva poderia impulsionar o turismo rural e favorecer o desenvolvimento de um plano de negócios que transformaria a região. O primeiro passo foi o Programa Novo Olhar, no Sindicato Rural de São José do Rio Preto, organizando a comunidade rural para traçar os objetivos de crescimento da região. Logo depois, por meio do Programa Negócio Certo Rural foi construído um plano de negócios, de acordo com a realidade dos produtores rurais, focando na geração de renda.
“Temos a expectativa de aumentar em 20% a produção de chocolate artesanal esse ano, com o diferencial de ser bean to bar (da amêndoa à barra), ou seja, sem adição de conservantes, glúten ou lactose. Usamos o cacau de José Bonifácio, porque entendemos que precisamos fortalecer a região”, disse Simone Caldeira, produtora e aluna do Programa Novo Olhar.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Tirso Meirelles, ressaltou que é uma cultura nova e os produtores ainda estão se adaptando às necessidades dos cacaueiros, mas já enxergam boas perspectivas. “
Com o envelhecimento dos cacaueiros em áreas onde era tradicional, abriu-se uma grande oportunidade de investir nessa cultura, que demonstra possibilidade de bons resultados financeiros. Com o suporte do governo do estado e a capacitação, pelo Senar-SP, em breve contribuiremos para que São Paulo entre, definitivamente, no mapa do cacau de excelente qualidade”, concluiu Meirelles.