Participei da gestação da minha esposa, cuidei da minha filha nos primeiros dias, mas logo achei que meu papel era apenas pagar as contas então aceitava todo tipo de trabalho, e acabei deixando minha esposa sozinha demais com a bebê.

Gostava de cuidar da minha filha, ela foi crescendo e nos tornamos bastante unidos, mas em vários momentos eu estive desatento e releguei minha filha para o segundo plano. 

Quando ela começou a crescer, acho que fui autoritário demais. Gritei, castiguei, achava que era assim que se educava uma criança. Às vezes, quanto mais autoritário você é, mais seus filhos se impõem contra você, mais eles respondem com revolta e quanto maiores ficam, mais eles respondem com desrespeito, porque percebem a injustiça e não entendem o sentido dos comandos.

Para disciplinar crianças, devemos torná-los discípulos. E um discípulo não é alguém que tem medo de você, é alguém que ama você, que quer obedecer a você, e quer seguir você.

Tive a sorte de aprender isso cedo.

Mesmo assim, errei ao idealizar minha filha. Que ela quisesse aprender música, se interessasse por programação, quisesse fazer um intercâmbio aos 15 anos, estudar fora aos 18 anos. Mas esses eram os meus sonhos. Minha filha tem os sonhos dela.

Demorei pra entender que o papel do pai é conhecer o filho, aceitar seus sonhos, celebrar sua existência. 

Errei ao não ser um marido melhor, errei ao não conseguir equilibrar tempo e atenção para as duas filhas, errei quando trabalhei demais e fui ausente, errei quando me deixei levar pela emoção e respondi malvado, gritei, ameacei.
Errei, me arrependo e me perdoo.

Porque errei também ao achar que pai é um ser perfeito. Descobri que pais são imperfeitos, falhos, atrapalhados, desinformados, perdidos.

E a imperfeição também ensina aos filhos. Dá espaço pra sempre melhorar. Se perdoar é essencial para continuar caminhando.
 

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