A televisão, o carro, o liquidificador, todos acompanham manual. Um filho, muito mais importante que eletrodomésticos, vem sem.
Dizem que filhos vêm sem manual, o que já é assustador por si só, mas pelo menos na hora do parto deveriam nos entregar um livro de expectativas da sociedade. Algo como “O que se espera de um pai”, para que os homens soubessem o que os outros querem de nós. O que esperam as mães, os avós, a sogra, as revistas de parentalidade, os programas de tv, os livros pediátricos, as redes sociais, os olhares de estranhos quando estamos sozinhos nos parques, só nós e nossos bebês?
Todo pai é um desorientado.
A televisão, o carro, o liquidificador, todos acompanham manual. Um filho, muito mais importante que eletrodomésticos, vem sem.
Nem uma bula, nem uma mísera etiqueta amarrada no pé do bebê: “NÃO BALANCE, POIS VOMITA”.
A humanidade não viveu tempo o bastante para chegar a conclusões? Não poderiam ter se reunido em algum momento histórico, assim como fizeram ao criar a ONU, o Euro, a OMS, e saído da reunião, os pediatras, psicólogos, cientistas, todos com um livro, dizendo nas entrevistas: “Conseguimos! Temos agora um manual”? Ora, um pequeno livrinho de regras simples: “o que fazer e o que não fazer”, coisas óbvias que todos parecem saber, menos os pais. “Volte cedo do serviço.
Não saia para happy hours com amigos no primeiro ano. Não limpe o rosto da criança com pano que caiu no chão. Não tente andar de skate enquanto empurra o carrinho de bebê”.
Para ter filhos seria obrigatória a leitura do manual. Uma grande prova nacional seria realizada anualmente para os candidatos à pai. Tirando notas baixas, você estaria proibido de ser pai. Para casar no cartório, apenas com a carteirinha de aprovação.
Alguns saberiam o manual de cor, recitariam trechos nos bares, se mostrando para as garotas. “Artigo 33, parágrafo quarto: jamais esquente a mamadeira de plástico no micro-ondas”. Teriam sempre orgulhosamente o diploma na carteira. “Aprovado para paternidade”.
De tempos em tempo, o manual seria atualizado. No jornal da noite a manchete: “Bater em crianças acaba de ser abolido do manual”.
Os pais estariam sempre aprendendo sobre a coisa mais importante da vida, criar bem outro ser humano.
Não estou dizendo que não erraríamos mais. Mas já seria um ótimo começo.
A vida é incrível.
Desejo a você muito mais do que sorte.
Marcos Piangers