Estamos no tempo que chamamos de  Modernidade Líquida, conceito construído pelo sociólogo polonês Zigman Bauman, e isso nos dá a nítida ideia de descontrole do tempo e da vida, pois quando algo começa a se solidificar já é passado. Não há tempo hábil para um projeto de vida ser sonhado, planejado, concebido, embrionado, nascido, amadurecido e frutificado.

Esta somatória de tempo vira passado e remete nossos ideais ao campo do obsoleto. Lembro-me da infância, quando aprendi a andar de bicicleta com a bike do amiguinho. Sonhava em ganhar a minha, mas as coisas eram difíceis por lá. Idealizei a cor, a marca… Visualizava, comentava, planejava… Finalmente, no meu aniversário de dez anos minha mãe comprou a Caloi azul.

Foi uma festa de gratidão e regozijo. Este interstício entre o desejar e o ter nos ajuda a entender o valor real de cada projeto de vida ou de cada conquista. Sem este espaço de tempo achamos que temos tudo muito facilmente e a conquista não tem o sabor tão refinado. Hoje um menino de oito anos pede um smartphone ou um iped numa semana, na outra já o tem na mão. Hoje um rapaz apaixona-se por uma moça e estão na cama uma semana depois. A pressa atropela os ritos de namoro, noivado e casamento. Não havendo maturação do desejo, uma etapa é atropelada e a conquista perde o encanto.

Pessoas aceleradas também desfazem relacionamentos e amizades com maior frequência. A aceleração da vida inclusive afeta a saúde. Lembro-me quando íamos para a casa da minha avó e passávamos parte das férias na sua casa, interior de Santa Catarina.

Ela acordava às quatro e meia da manhã, rachava a lenha, acendia o fogo, tirava a água do poço com o balde e só então começava a preparar o café. Depois vinha o rito diário do almoço, por fim a refeição preparada com mãos e coração.

Hoje os fest foods e os micro-ondas transformam estas horas de rito em minutos. Em razão do ritmo de vida que adotamos,  comemos apressadamente comidas rápidas e aumentam os casos de doenças cardiovasculares, gastrites e diabetes. Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou uma pesquisa que revela que quase metade da população brasileira está acima do peso. A pesquisa também diz que o excesso de peso nos homens começa na juventude: na idade de 18 a 24 anos, 29,4% já estão acima do peso; entre 25 e 34 anos são 55%; e entre 34 e 65 anos esse número sobe para 63%.

Países onde a vida é veloz e intensa há maior incidência de depressão, de doenças psicossomáticas, de suicídios e de divórcios. Neste contexto não podemos ignorar que há crianças de oito ou nove anos com altos níveis de stress. Imagine o peso da agenda de um menino que precisa acordar as seis e meia todos os dias para ir ao colégio e só sai da aula as 12:30h.

Nas tardes tem aula de inglês, treino de judô, aula de música e reforço escolar. Este menino será mais um estressado neste contexto. Eu pergunto: como foi a sua aceleração em 2017? Precisa diminuir a velocidade em 2018?

Por estes dias encontrei um bom conselho na Bíblia a quem está acelerado:
 

Assim diz o Senhor: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma;… (Jr 6:16).

Vamos fatiar:

1) Colocar-se à margem do caminho é parar. Pare! A aceleração pode ter lhe colocado em rotas erradas.

2) Pergunte pelos bons caminhos, isto é, peça sabedoria para a condução da vida.

3) Ande pelos bons caminhos e na sua velocidade. Não esqueça que cada um de nós tem seu ritmo mental e biológico.

4) E encontrareis descanso para as vossas almas. A parada e a retomada nos leva a aceleração adequada que produz descanso para a alma.

Que Deus nos ajude a isso!
 
Rev. Marcos Kopeska
     

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *