Unidade do LFDA é referência para a doença desde 1995; técnicos analisaram suabes e amostras de tecidos de aves infectadas
O Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA-SP) de Campinas, que emitiu o laudo que possibilitou a confirmação do caso de doença de Newcastle no país, foi capaz de analisar amostras em apenas 24 horas. A agilidade no procedimento foi fundamental para que o Serviço Veterinário Oficial do Brasil tomasse as medidas necessárias para o controle sanitário e evitasse a propagação. Em função do diagnóstico positivo, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) declarou emergência zoossanitária no Rio Grande do Sul por 90 dias a partir de 18 de julho.
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De acordo com o auditor fiscal federal agropecuário Christian Steffe Domingues, responsável substituto pela unidade de Diagnóstico e Identificação Genética Animal do LFDA-SP, as amostras vindas do Rio Grande do Sul foram analisadas no dia 15 de julho e os primeiros resultados saíram dia 16. Foram analisados suabes de traqueia e cloaca, além de amostras de tecidos de sistemas nervoso, respiratório e digestivo. Suabes são hastes para coleta de material biológico, que se popularizaram no país durante os testes de Covid-19.
Para os exames foram utilizadas cabines de segurança biológica para preparo das amostras, homogeneizadores de tecidos, extrator e purificador de material genético, termocicladores para ensaios de PCR em tempo real com transcrição reversa e sequenciador genético. PCR é uma técnica usada para amplificar uma região específica de uma molécula de DNA em milhares de vezes para facilitar diagnósticos. Costuma ser aplicado na identificação de seres vivos ou mortos a partir de amostras mínimas de tecido.
PASSO A PASSO
Christian contou que as amostras recebidas passaram pelas etapas iniciais de cadastro e triagem. Em seguida foram encaminhadas à área de alta contenção biológica NBA3 (laboratório de nível de biossegurança 3 animal) do laboratório para processamento. Os tecidos dos sistemas nervoso, digestório e respiratório foram triturados e centrifugados.
O material obtido foi submetido à inativação do agente viral e liberação de ácidos para posterior extração. Depois de extraídos esses ácidos, as amostras (suabes e tecidos de órgãos) foram submetidas à prova para detecção do RNA do vírus da doença de Newcastle.
Os materiais dos sistemas nervoso e digestório da ave identificada como nº 2 apresentaram resultado positivo no ensaio para Newcastle e negativo para detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade, também conhecida como gripe aviária. Paralelamente, o material com resultado positivo na triagem foi direcionado ao sequenciamento genético do gene para determinação da patogenicidade do vírus detectado.
Após análise, segundo o auditor fiscal, verificou-se que o patógeno apresentava uma sequência de aminoácidos compatível com vírus virulento (ou patogênico) da doença de Newcastle.
O LFDA-SP informou que os serviços veterinários oficiais haviam detectado a presença de mortalidade de aves superior a 20% do lote, além de sinais clínicos neurológicos e digestórios, dados que foram considerados durante a análise.
LABORATÓRIO
O Brasil não registrava casos de Newcastle desde 2006. Naquele ano, o mesmo laboratório confirmou o diagnóstico. Christian disse que o laboratório nacional é referência para o diagnóstico de doença de Newcastle desde 1995. “Em 2000, tornou-se referência para este diagnóstico para o Mercosul e, em 2012, obteve acreditação na ISO/IEC 17025, que cumpre requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração pela Coordenação Geral de Acreditação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro)”, explicou o servidor do Mapa. A auditoria parta manter essa acreditação é realizada a cada dois anos.
O processo de certificação não parou por aí. Em 2016, o LFDA-SP foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal como Laboratório de Referência para os diagnósticos de doença de Newcastle e gripe aviária (Influenza). A estrutura também conta com um laboratório de alta contenção biológica (NBA3), reconhecido em 2022 pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).
Os critérios para a designação como laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal incluem habilidade, capacidade e prontidão da instituição para prestar serviços relacionados à saúde animal; prestígio científico e técnico da instituição em níveis nacional e internacional; liderança científica e técnica da instituição, com expertise reconhecida internacionalmente; estabilidade institucional em termos de pessoal, atividades e financiamento, além de relevância técnica e geográfica da instituição e suas atividades frente aos programas prioritários da organização mundial.
O LFDA-SP tem bases em Campinas e Jundiaí. Ele é composto por oito unidades laboratoriais, atuando em diversas áreas de apoio junto à defesa agropecuária federal. Possui um quadro de colaboradores composto por 76 servidores e 81 terceirizados. Especificamente na Unidade de Diagnóstico Animal, responsável pela detecção de doença de Newcastle, fazem parte da equipe 19 servidores e dois terceirizados.
Por se tratar de uma doença de notificação obrigatória, o LFDA-SP é considerado o laboratório oficial para diagnóstico de amostras de casos prováveis de Síndrome Respiratória e Nervosas das aves (SRN), o qual inclui a doença de Newcastle.