Pesquisa feita na Etec Trajano Camargo pretende criar um corante ecológico a partir de microalgas e cianobactérias, com potencial para reduzir impactos ambientais da indústria

‌Beatriz Gallicchio sempre se interessou por moda. Estudando a história dos vestuários, na Escola Técnica Estadual (Etec) Trajano Camargo, de Limeira, a jovem identificou um incômodo. Com cerca de 22 mil empresas, o Brasil tem uma das maiores indústrias têxteis do mundo, que emprega quase 1 bilhão de pessoas direta ou indiretamente. O problema é que os corantes sintéticos usados em larga escala, colocam o País também no ranking dos maiores poluentes de rios e lagos.

“Participei de um trabalho de iniciação científica e conheci uma professora que estudava a toxicidade de corantes têxteis em animais aquáticos”, comentou. “Já tinha planos de trabalhar com algas por sua capacidade de purificação, até que surgiu a ideia de utilizar os pigmentos destes organismos”, completou.

Estava definido o tema para o trabalho de conclusão de curso (TCC) do Ensino Médio integrado ao Técnico em Química, que Beatriz cursava: um biotingimento têxtil, ou corante sintetizado a partir de pigmentos microalgais (Chlorella vulgaris) e cianobacterianos (Spirulina maxima).

“Já sabíamos que as algas possuem algum tipo de pigmento, pois fazem fotossíntese. O que eu não sabia ainda era como extraí-los sem que se degradassem”, contou.

Alternativa sustentável

Orientado pela professora Gislaine Delbianco e coorientado pela professora Inessa Bagatini, o estudo utilizou biomassa cultivada por 29 dias. Após coleta e liofilização, os pigmentos foram extraídos por ruptura celular. Foi formulado um corante submetido a testes em tecidos de linho, algodão, poliéster e elastano.

“Vou admitir que, no início, não tinha certeza que daria certo a aplicação em tecidos. Pensei que teria que usar um fixador potente. Mas fiquei surpresa com a capacidade de tingimento desses pigmentos”, contou.

Os resultados indicaram boa aderência, especialmente em tecidos sintéticos, além de durabilidade e atratividade visual. A pesquisa visa oferecer uma alternativa sustentável ao mercado têxtil, contribuindo para a preservação dos recursos hídricos e para a saúde, impulsionando práticas mais ecológicas na indústria.

“Encontrei ainda artigos sobre biorremediação das águas com essas microalgas, ou seja, a purificação das águas residuais como fonte de nutriente para o crescimento desses microrganismos. Penso que é muito interessante aplicar isso no meu projeto, assim, seria realmente uma economia circular na indústria”, completou.

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